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barradeferro

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28 Out, 2013

Será este o teste?

“One of the funny things about the stock market is that every time one person buys, another sells, and both think they are astute.”
–William Feather”

 

Se reparem escrevi o post  As bolhas financeiras e a esquerda (a 8/10/2013) ainda antes da atribuição do prémio novel da economia deste ano (2013) que foi atribuído a economistas (pelos menos 2 deles) que curiosamente abordam exactamente o mesmo tema. Também agora saiu o livro da Alan Greenspan, antigo presidente do FED em que um dos focal points dele no livro é que afinal existe uma maior irracionalidade nos mercados e no sector financeiro do que se achava possível. O que se está agora a perceber é algo óbvio! - Nunca deixes humanos à solta, porque nós não fomos desenhados para a verdade, fomos desenhados para o sucesso… Chama-se selecção natural!

 

Tal como dois dos economistas prémios Nobel da economia deste ano nos indicam, tal como Alan Greenspan agora parece ter descoberto, tal como Colin Camerer  nos mostra nos seus trabalhos, tal como outros autores também começam a evidenciar em diversos trabalhos (alguns em neurociência), quando toca  aos processos neurológicos de decisão toda a carne é metida no assador e quando o grau de complexidade é enorme, como no caso dos mercados financeiros, as tentativas de inferir razão e intenções leva à percepção do (s) mercado (s) como uma entidade singular, com vontade própria, que leva á personificação dos mesmos que é claramente perigosa.  Perigosa porque os estudos demonstram que temos um comportamento muito diferente quando estamos a jogar com uma outra pessoa ou contra, por exemplo, um computador. Perigosa porque se personificarmos vamos tentar aplicar inferências de TOM (theory of mind), colocar-me nos sapatos de alguém, ou seja tentar perceber o que essa pessoa (mercado) sabe que nós não sabemos e como tal incorporar esse conhecimento, esse 2nd order belief e nem percebemos que não existe racionalidade por detrás do que estamos a assistir, não passando tudo de uma bolha de inferências em prol da satisfação da euforia reinante.

 

Mas, para além de me gabar de ter colocado antes do acontecimento um post relacionado com premio Nobel, porque falar nisso agora?

 

Porque vai ser curioso ver quem vai resolver o problema! A esquerda ou a direita?  E se for a esquerda percebemos que o patamar de esquerdização estará muito perto se ser norma.  No dia em que até questões de funcionamento dos mercados de capitais mundial são decididos pela esquerda (processos cognitivos de) então sabemos que é altura de perceber que a guerra está perdida e vamos viver as consequências: sejam elas boas ou más.

 

Ora a esquerda é normativa. Ou seja a parte da moral e ética que se preocupa é no essencial normativo. Não é por mero acaso que se costuma dizer que o Harm/care e fairness/reciprocity é a parte normativa da ética e a parte do loyalty/ingroup,  Authority/Respect, etc são a parte descritiva (descriptive) da ética e da moral. A esquerda, como expliquei no meu post sobre Haidt só conhece, só reconhece, a parte normativa (prescriptive) e por isso a esquerda é toda virada para impôr regras (normativos) aos outros( Politic Correctness , burocracia, etc.).

 

Direita = Descriptive ethics (What do people think is right?)  // Esquerda =  Normative (prescriptive) ethics( How should people act?)

 

Se chamar cada um dos grupos a resolver o problema enunciado terá algo muito parecido com os seguintes axiomas:

 

Esquerda - Chamada a resolver esta questão irá definir regras no modo como o valor dos assets é gerado/atribuído. Por exemplo, assim que houver um determinado asset (ou conjunto identificado de) que esteja a atingir um valor muito alto ou com determinado ratio incremental irá haver normativos que impedem o valor de continuar a crescer. A interpretação que determinado valor não está estabelecido tornará nula sua evolução. Isto é a esquerda: Tem prescrição de medicamento para tudo.

 

Direita- Chamada a resolver este problema, sendo mais descritiva do que normativa, irá procurar incluir um instrumento de avaliação deste tipo de fenómenos por exemplo atribuindo, a quem quiser consultar, um índice de risco de bolha... Acertou, algo muito parecido com o serviço das agências de rating, se calhar mais diversificado, mais detalhado e com índices e ratios que representam riscos de irracionalidade no dia-a-dia da operação bolsista. Isto é a Direita: Avisa e pune, mas no entretanto cada um está por sua conta e risco.

 

 

 

 

 

 

 Esta é para o meu amigo Bruno Marques,

 

No seguimento do post anterior esta explicação parece-me importante. Porque isto tem que estar em pedra:

 

As pessoas de direita  (pela OFC/VMPFC) necessitam de viver a avaliar o resultado do seu comportamento e os incentivos que suportam esse comportamento (incentive value of a behavioral outcome) assim como a determinar o valor de um resultado relativo, fazendo o match, com a opção que originou esse resultado (credit assignement), ou seja o que fiz eu (ou outros) e qual delas ( das actuações/regras, etc) é que depois originou então este resultado.  Depois fica registado (provavelmente na OFC) para uso posterior.

Tal como faz parte dos processos em que se sentem confortáveis comparar qual o valor de cada uma das alternativas disponíveis para escolher, essencialmente com base no seu valor subjectivo (… sem necessariamente calcular o resultado do valor expectável a dividir pelo esforço),  assim qual dessas alternativas se apresenta como a mais correta de forma subjectiva (e subjectivo não em relação a ele como pessoa mas à alternativa).  No momento em que decide isto, fica ancorado a este momento. Mesmo no futuro, qualquer avaliação de eventos voltará ao ponto em que isto foi decidido (até á próxima análise que compute outra amostra da realidade).

 

 

As pessoas de esquerda (pela ACC/DLPFC), pegam no valor expectável de determinada opção e integram essa informação , concertam, com o valor da acção que se vai tomar (que se espera tomar) para procurar qual a utilidade dessa opção. Alguém de esquerda está sempre a procurar o importância funcional, a utility.  Aliás por isso diminuem mais o valor de uma determinada opção se o esforço para a atingir for grande, continuamente calculando custo/benefício da recompensa prevista. Nesse cálculo vão incessantemente registando a história recente da escolhas e dos resultados obtidos, gerando reward prediction error,  erros na previsão das recompensas (que muitas vezes vem da OFC e VMPFC). Na esquerda esta actividade toda da ACC liga com a DLPFC que sendo onde reside a working memory  e onde são computadas uma variedade enorme de informação importante para o comportamento imediato e este é assim reajustado conforme , se quiserem, o rolling average dessa informação e conforme essa informação vai alterando assim são alteradas em conformidade as crenças e o comportamento sem verdadeiramente dar importância ao que se achava no início do processo.

 

 

Esta diferença entre modelos cognitivos é muito importante e eu deveria parar por aqui. Por isso releia os dois parágrafos anteriores antes de prosseguir e se quiser até abandone o Post e volte noutra altura:

 

Assim e por incrível que pareça, nesta esquerdização do mundo,  os terrenos onde decorrem as batalhas são dos mais incríveis que se possa imaginar. Um dos mais curiosos é o da estatística e a ascensão das lógicas Bayesianas . E esta muito famosa guerra entre Bayesianos e frequentistas é mais importante do que aquilo que se possa pensar. A lógica Bayesiana (lógica da esquerda muito baseado nos primeiros parágrafos) é muito diferente filosoficamente da lógica frequentista (lógica da direita muito baseado nos primeiros parágrafos). Bem, pelo menos eu acredito que assim seja.

 

Alguém de direita, perdão frequentista, dirá: O mundo é de uma determinada maneira mas eu não sei como é. E na verdade não te consigo dizer como o mundo é só através dos dados, porque estes são sempre finitos, com várias incongruências e eu olho para eles com desconfiança. Assim vou usar estatísticas para alinhar as alternativas e ver quais é que ficam mais ou menos fora da realidade que observo. Ser frequentista significa que só se faz afirmações sobre o mundo em si e não sobre as minhas crenças sobre ele.  São feitas apreciações sobre os dados e o seu significado, mas não sobre a hipótese (mundo) porque ela ou é, ou não é, e não está condicionada verdadeiramente aos dados (do qual se é, mais ou menos,  céptico).

 

Alguém de esquerda, perdão Bayesiano diz :  o mundo é de  uma determinada maneira mas eu não sei como é. Tudo o que tenho são estes dados aqui que são finitos e delimitados. Assim vou usar esses dados para inferir quão provável será cada um dos diferentes estados do mundo. Ser Bayesiano implica fazer afirmações sobre as minhas crenças sobre o mundo, mas não perde tempo a questionar o significado dos dados, computa e depois infere sobre a hipótese (mundo) sendo que a hipótese está toda condicionada aos dados que ele insere para computar. Quando inserir novos dados volta a computar e a olhar então para o mundo (hipótese) outra vez e o resultado que estiver presente passa a ser a sua (nova) crença.

 

Portanto , um Bayesiano dirá: provavelmente não há vida em marte. E quer dizer literalmente isto. Que ele acredita, que ele infere, que existe uma probabilidade baixa de haver vida em marte. Um frequentista só pode dizer que que os dados que usou não permitem dizer que há vida em marte. É muito diferente. Um faz apreciações sobre os dados o outro sobre a hipótese. Mas ao final do dia ou há ou não há vida em marte e esse “se há ou não há” não tem nada a ver com os dados!

 

 

Confuso? Também achei. Mas correto!

 

 

Nota: Toda a gente entende que qualquer pessoa independentemente da sua ideologia possui a capacidade de gerar qualquer dos processos cognitivos acima descritos, certo? A ideologia é meramente a escolha de em quais dos processos a pessoa se sente naturalmente mais confortável, logo que usa por default.

 

 

 

 

 

Quem me conhece sabe que eu entendo que ser de esquerda é a reminiscências do homem do paleolítico, do caçador-recolector e que ser de direita é o reflexo nos nossos genes do agricultor do neolítico, dos 10,000 anos que moldaram a evolução. Siga a psicologia de alguém de direita e encontra o agricultor neolítico: A ideia do semear para colher, o guardar para semear, o sacrificar para colher, a propriedade como sagrada - atributo dado pelo sacrifício feito até à colheita (período em que se passava fome) que até á redução na altura das pessoas levou (e a pessoas mais esguias)... Mas 50,000 anos de psicologia paleolítica não se apagam.

 

 Deixem-me, no entanto, ir direito ao assunto! – A importância da ACC (Anterior Cingulate Cortex) na psicologia de esquerda vê-se no modo como os portugueses (de esquerda na sua essência) abordam toda esta questão da crise económica.  Quando estamos a viver, a tomar opções e decisões temos que apurar qual o valor expectável. Como seres inteligentes e com memória,  a valia de algo estará em grande parte codificado algures entre o OFC (Orbifrotntal cortex) e o VMPFC ( Ventromedial prefrontal cortex) e está lá escrito em pedra (mais ou menos) como expected outocome (resultado expectável).  Não se iludam é aqui, na redução da incerteza, que vivem as pessoas de direita: existe um plano, ele representa o melhor que se consegue apurar pela avaliação do resultado expectável das opções possíveis e é para ser executado. Foi assim com o plano do Sócrates, foi assim com a troika  e o actual governo.  Reduzir o deficit (que ao final do dia é dívida) e inverter as condições macro económica como a balança comercial, cobrir os investimentos com as poupanças, procurar incrementar o peso dos bens transaccionáveis na economia. Ou seja, vamos semear, vamos sacrificar e vamos colher. Este é o mundo da direita. Expected outcome das opções tomadas (que não quer dizer que estejam corretas ou que se concretizem)  determinadas pela confiança cega que possuem que a sua VMPFC/OFC (que dominam) realmente olhou para as várias opções e escolheu a acertada e sem sobra de dúvida a mais adequada para o objectivo (goal) que se está motivado para atingir (kennerly et al).

 

  

Mas entra a ACC. E a esquerda vive confortável na ACC. -  E neste caso a função da ACC é integrar informação que promova (reinforcement) determinados actos/comportamento com base na informação que recolheu num período temporalmente contíguo avaliando o seu expected value (não o outcome ),  dito de outra forma qual a sua  utility – que se vai realmente ganhar com isso.  

 

Ou seja a esquerda integra o que se está a passar à sua volta (ou que se passou recentemente) para perceber qual o comportamento que deve assumir:  Este encode entre os resultados e a actuação imediatamente a seguir é o domínio da ACC e da DLPFC (o A e o D do pathways de esquerda). A direita, considerou as opções, atribui-lhe um valor, escolheu aquela que acha é a correta… mas integra muito mal (tardiamente) as consequências que ocorre durante o discorrer do plano (o que tanto pode ser bom como mau).

O que é computado na ACC vai tentando impor alterações no comportamento (imediatas) conforme as recompensas que se vai obtendo no decorrer do processo. Austeridade, desemprego, impostos (negative outcomes) são imediatamente computados como erro e o cérebro de alguém de esquerda grita, erro, erro, erro! A não concretização de impactos anunciados (como cortes ou reduções salariais) que não se concretizam são imediatamente computados como recompensas (rewards) e como a ACC está sempre a calcular, a integrar, as ultimas recompensas/erro no average do cálculo de probabilidades de acção-efeito, cada vez que uma medida em Portugal não é concretizada (seja por acção do TC ou outra) vai reforçar o comportamento das pessoas de esquerda. E não esquecer que esta pathway de esquerda liga muito à working memory da DLPFC (memória de trabalho).

 

 Já estão a perceber o trabalho dos media? – Os media (composto na essência por pessoas de esquerda) não processam relações de expected outcome, nada disso, reproduzem infindavelmente os efeitos (fictive ou reais) para alimentar essa working memory que por sua vez incita cada vez mais a ACC a determinada visão ou comportamento. E a cada vitória da esquerda mais o referido comportamento se torna repetido, na verdade muito como uma bola de neve, como um crescendo, cada vez … reinforcement history to guide their choices.  É sempre o momento actual e o seu peso relativo, e não o passado nem o futuro, que interessa.  

Nós tínhamos verdadeiramente duas hipóteses: abandonar o euro e isso muito provavelmente concretizaria cenários em que se dava um default da dívida soberana (se não para quê sair), por conseguinte um default das empresas e o colapso do sistema bancário. Cálculos de um custo por português a rondar os €9,0000-€11,000 logo na saída e de €3,000-€4,000 nos anos subsequentes não andarão muito longe da realidade. Logo uma contracção do PIB a rondar os 40%-50%.

Óbvio que opção por opção ter reduções de 3% ano no PIB bate qualquer dia da semana conscientemente promover contracção de 40%-50% do PIB num só ano…. Contudo, para quem é de esquerda isso é matéria de certa forma irrelevante. A opção escolhida (austeridade), tal como é apresentada diariamente aos portugueses dominada pelos seus efeitos negativos provoca no cérebro de esquerda mais erros do que uma versão beta do Windows. Se todos os dias na televisão passasse 20 minutos de segmentos mostrando o  que seria a nossa vida fora do euro e com uma contracção do PIB a rondar os 50% no essencial todos estes “erros na ACC” tinham um contributo bastante mais reduzido para o average das consequências nefastas que a nossa actual situação elícita. Para alguém de direita a única pergunta que faz todos os dias é “are we there yet? Are we there Yet?” e todas as estratégias de delonga, de dilação, são profundamente perturbadoras porque só servirão para prolongar aquilo que (na sua opinião) é inevitável, aquilo que ele (certo ou errado) tem como expected outcome.

 

Reparem que nenhuma das duas formulações parece ser verdadeiramente correta ou se quiserem apropriada. Ser escravo do carpir das presentes agruras, com vista ao presente hedonístico (alivio das condições), não vai resolver nada (atira-nos para fora do euro quando muito) por muito folclore que seja feito e por muito bem até que descreva as falhas racionais subjacentes à opção da direita (baixa utility do esforço) que falha porque uma dívida pública de 130% do PIB dificilmente será pagável ou resolúvel mesmo que se atinja equilíbrios macroeconómicos nem sequer sendo claro que existe uma recompensa futura que nos vai permitir não pagar a dívida (parte) e continuar no euro.

  

Quem é capaz de formular então as proposições corretas?

 

Haidt é importante nesta conversa. E é importante porque sendo ele parte de uma comunidade, a da psicologia social, onde mais de 90% se identificam como de esquerda ou extrema-esquerda soube tomar o comprimido vermelho e olhar para as pessoas do outro lado da barricada. Conta ele que decidiu que iria descobrir o que havia de errado com o cérebro das pessoas de direita e nesse sentido partiu para uma investigação pelas mais diversas culturas procurando descobrir aquilo que era comum a todos.

Haidt descobriu que os humanos, nas suas diversas formas culturais, possuem essencialmente 5 pilares morais, 5 fundamentos éticos (agora passou a 6) :

          1. Harm/Care
          2. Fairness/Reciprocity
          3. Ingroup/Loyalty
          4. Authority/Respect
          5. Purity/Sanctity 

Contudo Haidt reparou que as pessoas que eram de esquerda somente valorizam dois dos pilares (harm/care e Fairness/reciprocity) e são as pessoas de direita que verdadeiramente incorporam todo o espectro. Olhando graficamente para a representação gráfica destas diferenças, encontramos as pessoas de direita a valorizar todos os cinco botões do equalizador moral e as pessoas de esquerda no máximo do Harm/care (tal como os de direita), no máximo do fairness/reciprocity (ligeiramente mais alto que os de direita) e depois uma queda brutal nos outros 3 pilares (ao contrário das pessoas de direita que mantém sempre lá em cima). Como Haidt explicou no Colbert report na verdade as pessoas de direita são … mais complexas. E Haidt não esconde (tendo sido ele um Liberal a vida toda) que as pessoas de esquerda têm uma vida moral, uma vivência moral, bem mais pobre que as pessoas de direita e isso parece revelar-se no facto de as pessoas de direita, aparentemente, serem mais felizes.

 

Durante décadas todo o postular moral tem sido feito com base nos dois primeiros pilares e isso hoje em dia é notório na literatura, nos media, nos canais de informação, Harm/Care -Fairness/reciprocity, Harm/Care-fairness/reciprocity ,  Harm/Care-fairness/reciprocity  … mas nada sobeja para os outros pilares. Como todos, de esquerda e de direita, possuem aqueles dois pilares é uma aposta segura para as fórmulas de comunicação e do ponto de vista de quem é de esquerda correta… mas para quem não é de esquerda falta as restantes componentes e isso pode estar a revelar-se num alheamento destes perante o este novo mundo da esquerda.  

 

As pessoas de esquerda não saberão onde parar. Disso tenho a certeza. Porque obviamente só quando o mundo fosse momentaneamente à sua medida estaria bem. E o mundo à sua medida não será nunca, antes estará (presente).  A esquerda (nos processos cognitivos de avaliação) não tem bem passado nem futuro . As apreciações ocorrem sobre o presente em detrimento das circunstâncias do tal passado e sem medir propriamente as consequências (valor expectável) no futuro… tudo está sujeito às condições do presente e isto nasce da prevalência total da working memory da DLPFC que serve para se navegar o momento actual e influencia grandemente os seus processos de avaliação e de decisão. 

As pessoas de direita viverão num mundo à medida de pessoas de esquerda até um certo ponto mas chegará o momento em que será um mundo formalmente demasiado normativo e como tal não funcional (para ninguém)  - Não é por mero acaso que as pessoas de esquerda não se organizam e vivem num mundo de esquerda só deles. Pessoas de esquerda habitam habitats, mais ou menos, de direita. Sendo mais de metade da população mundial tão simples que era essas pessoas de esquerda fazerem uma comunidade só deles (fácil de organizar neste mundo de social media) e num ápice transformavam o mundo… mas porque não acontece?

 

Ora, as sociedades ocidentais ainda são suficientemente flexiveis para que ambos os fenótipos ideológicos encontram mecanismos para organizarem as suas existências… contudo deverá chegar a um ponto, penso que não muito longe no futuro, em que isso não se verificará. Aí resultarão meramente duas hipóteses: Existir uma forma de opt-out para as pessoas de direita, uma opção de saírem e viverem num ambiente menos formalmente normativos, mais karmatico, com passado e futuro, regido por regras de expected outcomes,  pelas consequências das acções tomadas no passado com base no valor atribuído à opção escolhida… ou, alternativamente, como sempre acontece, será um reagir violento, muito violento – E convenhamos, já não há necessidade, nem pachorra, para coisas violentas!

 

http://www.youtube.com/watch?v=jHc-yMcfAY4

 

 

 

13 Out, 2013

Separar as águas


Anygdala = direita; Insula = esquerda.  Ok?

 

Pese embora o cérebro consiga comunicar entre as suas variadas áreas a verdade é que parece ter caminhos mais ou menos fixos, algo como mecanismos default e muitas vezes até unidireccionais. Assim, conseguimos saber, vendo o cérebro das pessoas em ressonância magnética funcional, se elas são de esquerda ou de direita meramente vendo se suscita a Insula ou a Amygdala no início do processo. Ponto.

 

Quando alguém de esquerda acorda (reage, decide) o primeiro lugar por onde passa é na Insula (nível 1 do IAD) e esta informa-o do estado geral do seu corpo (interoceptividade). A insula regista visceralmente como ele se sente. A pessoa de direita acorda e o primeiro lugar onde vai é à amygdala registando, arrolando, o espaço ao seu redor e que informação lhe transmite (barulhos, cheiros, etc).  Aquela alta interoceptividade das pessoas de esquerda é como uma âncora interna que os liga sempre a si próprios (auto referencial) para o melhor e para o pior.

Para definir este primeiro nível dos pathways de esquerda e direita uma das mais curiosas definições é que as pessoas de esquerda tem “gut feelings” as pessoas de direita têm “sexto sentido”. E não é a mesma coisa: O Gut feeling resulta desse elevado estado de interoceptividade e são mesmo os seus órgãos internos, que tão bem monitorizam, que lhes transmite a primeira ordem de consciência, essa sensação na boca do estômago, ou como o seu coração estava acelerado, etc. As pessoas de direita têm sexto sentido porque o sexto sentido é-lhes dado pela Amygdala.  A Amygdala “vê” tudo ao seu redor. Tal como a insula não “pensa” mas cria um nível de alarme, de alerta. Por exemplo a Amygdala detecta o contrair de pupilas de terceiros a distâncias consideráveis mas conscientemente a pessoa não está ciente desse facto, meramente que dispara o seu nível de alerta, o seu sexto sentido. As pessoas de esquerda são capazes de monitorizar os seus batimentos cardíacos e isso transmite-lhes estados subjetivos.  A pessoa de direita lê o ambiente (pela amygdala) a pessoa de esquerda “sente” o seu estado interno relativo a esse ambiente (pela insula) essencialmente por representação do corpo e representação subjectiva de emoções. Os desconfortos do corpo, desde pequenas dores a faltas de ar a dores ligeiras somáticas são provocadas pela Insula daí que os hipocondríacos devam ser todos de esquerda (! – vai uma aposta?), tal como as pessoas com elevados incómodos ansiosos e desconfortos em meios ambientes devem ser todos de direita. 

 

Em resumo, as pessoas de esquerdas estão sempre aqui e agora, sentem o mundo fisicamente e representam-se, projectam-se, sempre a si próprios no espaço e tempo presente. As pessoas de direita recolhem informação do ambiente que os rodeia e usam essa informação para ir explorar memórias emocionalmente relevantes relativo a essa informação para modelar o seu comportamento, examinando perpetuamente o passado (memórias emocionais) para interpretar o presente (sob a forma de interpretações, como por exemplo estereotipar) e lendo o futuro antecipando-o  e de certa forma tornado o presente meramente no caminho para alguma coisa (expectency outcomes). Reparará que as pessoas de esquerda se focam muito bem isolando-se mentalmente na realização de tarefas e mantendo uma atenção selectiva para atingir aquele objectivo (DLPFC), enquanto as pessoas de direita navegam muito bem o arousal, a excitação (emoção) necessária à realização de uma tarefa que seja exigente e sujeita a contínuos estímulos durante um período considerável (VMPFC).

 

Já agora, deixe que a Insula o sequestre e fica um caco emocional sempre pronto a chorar, deixe que a Amígdala o sequestre e fica um louco varrido pronto a exagerar na reacção.

 

 

Faz sentido?

“"Across all of our experiments, we've tested maybe 30,000 people, and we had a dozen or so bad apples and they stole about $150 from us. And we had about 18,000 little rotten apples, each of them just stole a couple of dollars, but together it was $36,000. And if you think about it, I think it's actually a good reflection of what happens in society."”

 

 

Não gosto do Ali Babá. Mas gosto menos dos 40 ladrões.

Quando alguém me chama de forma veemente atenção para o Ali baba fico imediatamente atento aos 40 ladrões. Tal como Dan Ariely nos demonstra nos seus estudos será de dar menos atenção aos Oliveira e Costa e o Duarte Lima deste mundo (é punir rápido e exemplarmente) e estar bem mais atento aos 40 ladrões. E penso que nos 40 ladrões haverá gente de todos os quadrantes políticos. Contudo o modo como o fenómeno é percepcionado já será bem diferente… e isso é mais importante do que parece.

Em 30 mil pessoas encontra-se em média 12 Ali babás (big cheaters como OeC) que roubam ao grupo cerca de 150 euros. Ora no mesmo grupo de 30 mil encontra 18 mil pequenos violadores da norma (little cheaters) que roubam ao grupo 36,000 euros. Repito:  150 euros para 36 mil euros (na verdade ele fala de dólares).  Enquanto a esquerda se distrai a falar repetidamente do Ali babá, os 40 ladrões roubam a casa toda. E do ponto de vista dos 12 mil que não são nem big nem little cheaters quem verdadeiramente os prejudica, quem verdadeiramente mina o mundo onde se movem, quem verdadeiramente os explora são os little e não os big.  Sendo a direita muito mais sensível à codificação de valor (reward) nas opções/decisões (no Vmpfc e OFC) do que os atributos de cada dessas opções (como o valor subjectivo de quanto retira para si cada um dos intervenientes) é natural que se emocione/excite menos com as histórias sonantes desses big e não consiga tirar os olhos dos littles a limpar a gruta. É que os 12 “banqueiros” roubam-lhe 1 cêntimo ( 0,012) mas os 18.000 pequenos “free riders” roubam  3 euros cada um, ou seja 250 vezes mais.  Para a esquerda os 12 euros que cada banqueiro arrecada, como são self-referential sempre (por imposição da Insula comparam-se com) é que os desassossega e não os 3 euros que são retirados por cada um outros (indo dar aos 36,000 euros).

 

Claro que existem Ali babas (e deveríamos manda-los para a cadeia e atirar fora a chave com a maior rapidez possível e mostrando como exemplo) mas a verdade é que para o sistema (economia, democracia, etc.) quem efectivamente corrói os alicerces, acaba com o sistema (economia, estado social, etc.) são os 40 ladrões (36,000 euros) e não propriamente o Ali babá (150 euros).

Assim e para terminar, não deixa de ser curioso que Ariely também tenha descoberto que para inibir este comportamento é suficiente um código moral, qualquer que seja, mesmo que não seja um código moral do little cheater. Aquilo que faz com as sociedades fiquem desequilibradas neste sentido é a ausência de códigos e simbologias (morais, religiosos etc.). E as pessoas não deixam de ser desonestas ou corruptas porque fazem uma análise de custo/beneficio ou probabilidade de ser apanhadas, nada disso parece ter grande impacto na decisão de ser desonesto (novamente Ariely). O maior culpado são as racionalização, as as ambiguidades e desculpas que as pessoas arranjam para justificar o que fazem (DLPFC).  Tudo o que contribua para relativizar o acto serve o propósito: desde a criatividade até ver/praticar outros actos imorais até o beneficiar terceiros e não só o próprio. Já em sentido contrário, lembrar as pessoas de postulares morais, assinar, falar de honra (eu devo fazer) … promove a que as pessoas não comentam actos desonestos.

 

 

… Quem é que gosta de relativismo moral, quem é que detesta códigos morais fixos? 

 

 

 

 







      Qual acha que era  (é) a inclinação política de Bernie Maddoff? Pois, parece mentira – extrema, extrema gauche.


 

 

 

 

 

 

 

 Ao contrário do que o pessoal pensa as bolhas financeiras não são geradas pelo pessoal de direita nas salas de trade devido à sua ganância. Não, são provocadas pelo pessoal de esquerda e sua ininterrupta inferência sobre os outros (é o que dá não ter estereótipos no cérebro).

 

As instituições modernas são complexas. E os mercados financeiros são um dos pináculos dessa complexidade. Se só existisse pessoal de direita na sala (viciados no Vmpfc) aqueles observavam os valores a inflacionar e até acompanhavam até um determinado nível, mas rapidamente parariam porque o modo como é feita a codificação da recompensa deixaria de ser razoável (ou justificável) para o cérebro “contabilista” da direita. Mas na sala há pessoal de esquerda (DLPFC), mesmo que seja dentro da mesma pessoa, e este pessoal provoca no trade um fenómeno curioso: Quando a bolha começa a inflacionar é o pessoal de esquerda  (ou o duende de esquerda dentro do trader) que promove o cavalgar da bolha porque o DLPFC diz-lhes que aquilo está a acontecer porque alguém sabe de alguma coisa sobre aquele portfólio (eles, sempre o eles), insiders que sabem de algo que eles não sabem e leva a toda essa dinâmica de 2nd order believes da DLPC que por sua vez origina o galgar de apostas atrás de apostas - são os sinais sociais da DLPFC que afectam as estimativas de valor da VMPFC  e dessa forma aumentando a propensão para embarcar nestas acções a quando das variações na intensidade das ordens que estão a ser colocadas em determinado portefólio.

O pessoal de esquerda  sabe que é verdade. O DLPFC pode ser bom em situações sociais mundanas mas esta capacidade é terrível quando é aplicada aos mercados porque o DLPFC engana o VMPFC a computar as métricas financeiras através da inferência (e todos sabemos que a esquerda infere, infere, infere) das intenções de outros levando às tais bolhas financeiras.

 

Pelo menos é isso que Camerer e De martino nos mostraram com In the Mind of the Market: Theory of Mind Biases Value Computation During Financial Bubbles.

 


Já tinha certezas sobre o IAD (Insula-Anterior Cingulate-Dorsolateral prefrontal cortex) e a sua ligação a pathways neurológicos da esquerda quanto encontrei Von Economo.  Não, não é uma pessoa. São Spindle Neurons - São neurónios de uma determinada forma que só se encontram em alguns mamíferos e somente naqueles de grande sociabilidade: Gorilas, chimpanzés, baleias, golfinhos, etc. e que teoricamente (não é fácil observá-los… os neurónios não as espécies) permitem um tráfego mais intenso entre as áreas que conectam.

Porque falo deles? Será uma coincidência que se encontrem…wait for it, wait for it…na Insula, na Anterior Cingulate e sim, adivinharam, no DLPFC.

 

Mas porque falo nisto?

 

“Abnormal spindle neuron development may be linked to several psychotic disorders, typically those characterized by distortions of reality, disturbances of thought, disturbances of language, and withdrawal from social contact…”

 

Alguém mais se lembrou de Mário Soares ou de Francisco Louçã?

 

 

 

 

 

 

  Para desenjoar...

 

  A esmagadora maioria das pessoas não sabe que não existe qualquer efeito no clima ou em fenómenos    atmosféricos relacionados com o aumento da temperatura global do planeta. Para que fique claro, não se detecta na precipitação, não se detecta um incremento de extremos climatéricos, nem nos ciclones, tempestades tropicais, furacões …etc. -  Só o comento aqui porque este facto é reconhecido agora no relatório das nações unidas, IPCC AR5 que saiu na semana passada (o equivalente a o jornal Avante admitir que o capitalismo até resulta).

 

Aliás, devo dizer que este assunto, na actual condição (*), é um assunto objectivamente morto. A maioria das pessoas não sabe que não existiu aquecimento global nos últimos 15 anos e esse hiato não é passível de ser explicado pelos modelos climáticos onde, aliás, sempre e exclusivamente o assunto verdadeiramente existiu,  impregnado  nos meandros insondáveis dos GCM (global circulation models) e dos mais complexos AOGCMs ( junção de oceano e atmosfera - HadCM3, EdGCM, GFDL CM2.X, ARPEGE-Climat). Se o planeta está (estivesse) realmente em desequilíbrio radiactivo não se consegue então explicar como é que não se regista um aumento global da temperatura. Assim simples e agora também reconhecido no referido relatório das nações unidas. Deixo de parte as tentativas torques de se dizer que o aquecimento se está a esconder nos oceanos abaixo dos 700 metros… já nem tenho pachorra.

 

Mas isso não é o interessante.

 Interessante é como é que um assunto que nunca existiu (na prática) esteve quase a ser fulcral nas nossas vidas. Como?  Porque num mundo de esquerda isso é possível. Esse é o poder do DLPFC (dorsolateral prefrontal cortex) da esquerda. O DLPFC é responsável pelo pensamento abstracto e toda esta conversa das alterações climáticas sempre foi isso mesmo: Um problema abstracto (que não quer dizer que não seja real!).

 E para a esquerda o abstracto torna-se real, concreto e palpável. Para qualquer problema o contributo do DLPFC é a atribuição de valor abstracto.  Num exemplo caricatural uma pessoa de direita só comeria alimentos com elevado sabor que estão gravados na OFC/VMPFC e uma  pessoa de esquerda morreria à fome porque a comida tem muitas calorias e isso não é saudável. O conceito de valor de uma alimentação que não tenha muitas calorias (abstracto) é dado pela DLPFC.

 Mas quando não se alicerça essa abstracção em valor concreto ela não é verdadeiramente transcrita como expectancy outcome (lá iremos um dia).  Para tentar envolver as pessoas de direita nesta conversa do aquecimento global, os inteligentes do marketing nos grupos ambientalistas e spin doctors políticos começaram a associar eventos atmosféricos ao tal aquecimento global.  E essa conexão as pessoas de direita entendem - O  valor (negativo) de levar com um furação em cima é real e está bem registado na OFC (orbifrontal cortex)!

 O problema é que se para alguém de esquerda basta associar dois eventos abstractos e eles passam a ser reais, para as pessoas de direita não (!).  Tem mesmo que ser material. E tal como expliquei no inicio e agora “confessado” pelo próprio IPCC, não existe relação entre extremos atmosféricos e toda esta problemática das alterações climáticas). Não está nos dados.  Not in the data! E as pessoas de direita gostam muito do in the data, porque a data não tem estados de alma.

A esquerda nunca deveria ter tramado, nunca deveria ter mentido. Dizer que dentro de 50 anos o efeito do aquecimento iria ser visível nos fenómenos atmosféricos é muito mais funcional, e aceitável, para alguém de direita do que que mentir (ok, forçar a realidade até ao ridículo) e objectivamente ajuntar eventos que não existe a mais pequena das provas que estejam nesta altura associados. Um erro, porque o primeiro assemelha-se a expectency outcome  (ora , vá ao Google) que a direita computa muito bem ( na VMPFC) e não os fictive outcomes que a esquerda consegue com uma facilidade estonteante considerar como autêntico (por vezes acerta).

 

Já agora o problema científico existe. E o problema é:  Se ao adicionar CO2 à atmosfera estas moléculas vão reter infravermelhos (calor) então como irá responder o sistema climático? Que acontecerá a esses Wm2 (forcing) a mais que por aqui ficam? Para a direita aplica-se a física: Ao duplicar o conteúdo de CO2 de 280 ppm (partes por milhão) para 500ppm o planeta aquecerá 1.2C (muito bom para o planeta) para a esquerda vai suceder um conjunto de feedbacks positivos (que são fictive outcomes) sobre os tais 1.2C que farão com que o planeta em desequilíbrio radiactivo aumente a temperatura global do planeta em 3C, 4C ou 5C (muito mau). A realidade parece estar a dar (como na esmagadora maioria da vezes) razão às pessoas de direita.

 

*Com a pausa (AKA the pause) de 15 anos no aumento da temperatura e que parece estar aí para continuar, se a temperatura global do planeta não voltar a aumentar nos próximos 5 anos este assunto será esquecido com a mesma rapidez com que a SARS que nos ia matar a todos foi. E tal como SARS pode é voltar dentro de uns anos with a vengence.  O leit motiiv deste post não é se é verdadeiro o desequilíbrio radiactivo do planeta- É como cada fenótipo encara este fenómeno.

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