Interessante há dias no ‘Insurgente a referência à distribuição remuneratória que sustenta a colecta liquida do IRS.
http://oinsurgente.org/2014/02/21/versao-simplificada-do-orcamento-de-estado-para-2014/
Essencialmente aquilo que já se sabia:
Ou seja, 65% dos portugueses não paga IRS.
90% Todos juntos representam 30% das receitas.
10% Dos contribuintes portugueses pagam os restantes 70%.
Sendo que 5% dos contribuintes pagam quase 60%.
E neste sentido é curioso o modo como funciona a mente das pessoas. Há quem olhe para estes números e instintivamente (e já tive várias experiencias) pense - Que desigualdade! Lá está que a riqueza está mal distribuída. Temos de a dividir ainda melhor. Ou, quem me dera a mim pagar 50% de IRS porque significava que ganhava muito bem…
Aquilo que me deixa sempre curioso sobre esta perspectiva é que ela só faz sentido se os rendimentos das pessoas resultar da sorte. Se houver uma tômbola redonda a rodar e a definir o ordenado das pessoas.
Por outro lado, a esmagadora maioria das pessoas, quando aborda esta questão tem a curiosa conveniência de não estar a falar de si próprias. Quando falo com as pessoas que se insurgem com tanta desigualdade acho curioso que se estejam a referir a pegar nos recursos de quem tem mais que eles e distribuir por quem tem menos que eles. Mas o eles está sempre fora da equação (e na maioria bem ganham muito mais do que os 700 de ordenado médio em Portugal). Que bonzinhos que são.
No fundo não é muito diferente do roubar alguém. E já se sabe quando se estuda criminosos que estes têm sempre uma desculpa que essencialmente culpa a vítima. Tal como a história dos One Percenters que são uns ladrões que comem tudo. Uns inúteis de Wall street que vivem de truque financeiros. Tem sempre que haver uma justificação moral ….
Mesmo indo à sociedade mais liberal, a americana e analisando os onepercenters a imagem do parasita que vive de dividendos, do capital(!), é destruída sem grande dificuldade. Não os onepercenters não são banqueiros e CEOs de companhia financeiras que se pagam fortunas milionárias e que por isso estará ali uma quantidade enorme de capital que se fosse taxado aliava as condições de vida dos mais desfavorecidos (e aqui já se serviram de um shot de endorfinas) .
Pois as análises feitas aos rendimentos desta gente mostra que os onepercenters são essencialmente self-made mans, donos de empresas não financeiras (30%), Médicos (14%) , pessoas do mundo financeiro (13%) e advogados (8%). Mesmo indo aos super, super ricos , ou seja os 0,1% dos rendimentos, temos 41% de business mans e 18% da finança… e o resto será atletas e celebridades que adoram negar que são sequer os onepercenters (como o Michael Moore) e sempre que podem adoram mais um shot de endorfinas ao postular algo moralmente superior e contra os malandros de wall street.
Mas quem é esta gente? - Será que é gente que teve uma educação privilegiada? Será que são pessoas que gozam de uma rede de apoio que lhes permite continuar a perpetuar privilégios… só pode (!).
Pois, não é verdade(!). – São no essencial genes, genética, alelos e SPNs na expressão genética. Não é nem uma questão de cultura, nem uma questão de meritocracia. No essencial está na linhagem, está nos genes. Ter antepassados de status social baixo irá ser uma força primária e muito potente contra a sua própria mobilidade social. E o facto deste meu último parágrafo ser chocante para muitas pessoas hoje em dia, quando era um facto aceite ainda não há muito tempo, é um excelente indicador de como o pessoal anda socialmente, e perigosamente , a navegar na maionese!
Mas deixem-me explicar: Greg clark é professor da universidade de califórnia (Davis) e é o autor de The Son Also Rises: Surnames and the History of Social Mobility. Em mobilidade social nos últimos 1000 anos ele é provavelmente a maior autoridade. E Ao longo dos anos tem demonstrado que a mobilidade social é no essencial um fenómeno extremamente lento, concretizando-se em escala de séculos e não de décadas. E demonstra que isso era tão verdadeiro à 500 anos atrás como agora. E as análises feitas por investigadores de Harvard e Berkeley percorreram verdadeiramente o planeta numa imensidão de dados, desde os EUA, Europa, do sul e norte, América do sul, médio oriente, China, Índia, etc. E quando se olha para os dados, em escalas de séculos e para o status social das pessoas se perceber de forma clara que a mobilidade social é uma coisa muito, mas muito vagarosa tanto no passado como no presente.
E nada parece resultar: Capitalismo, democracia, educação publica e obrigatória, emancipação feminina, redistribuição da riqueza (como na suécia) ou até revoluções sócio-culturais como na china de Mao. Nada, nada, altera este facto.
Ao final do “dia”, o status social de alguém pode ser medido no essencial por saber quem era o pai, o avô , bisavô… e faça no essencial o que fizermos ele vai regredir à sua própria média. Evidente que status sociais desaparecem e novos surgem. Mas é tudo muito lento, em média sendo oscilações de cerca de 15 gerações (350 anos).
Felizmente nas sociedades capitalistas toda a gente pode suceder. Sorte, esforço e mérito pode elevar o status sócio-económico de qualquer pessoa. Contudo, as características de perseverança, resiliência no fracasso, desconto exponencial do futuro versus hiperbólico (present bias) , etc, são essencialmente hereditárias e altamente correlacionados à sua linhagem patriarcal (apelidos). E não se iludam. Vá à Suécia e após um século de fomento do igualitarismo está lá, como está nos EUA ou na china (mesmo após Mao) onde 13 apelidos estão altamente sobre representados no sucesso.
A correlação de crianças adoptadas no resultado das suas vidas com os seus pais biológicos e não com os seus pais adoptivos é clara. E até a correlação como progenitores adoptivos no QI demonstrado enquanto são crianças desaparece ao chegarem à idade adulta.
Assim, e ao final do dia, ter sucesso Socioeconómico é uma característica que algumas pessoas possuem como traço em grande parte genético, tanto como por exemplo alguns têm para o futebol ou outros tem para a desenho. Uns até vão dar em Cristiano Ronaldo e outros em Paula Rego. Duvido é que houvesse cada um deles se o Cristiano tivesse que ter continuado a jogar no clube da Madeira ou que todos os trabalhos de pintura tivessem um preço médio fixado por alguém.
É por isso estranho este mundo em que se vive marcado por um entitlement por parte daqueles que não pagam sequer impostos sobre aqueles que no essencial alavancam os países e as suas estruturas económicas (têm sempre opção de ir para a Coreia do Norte). E isso é estranho. Devíamos antes fomentar, apoiar e valorizar os elementos da nossa sociedade que possuam essas características tanto quanto o fazemos aos futebolistas que demonstram talento. Devemos sentir orgulho em fazer parte das suas equipas, devemos entender o seu papel e não nos sentirmos em nada diminuídos pelo sucesso que alcançam. Ao final do dia queremos ser felizes ou ricos? É que uma coisa não me parece que tenha necessariamente a ver com a outra.
Claro que primeiro temos que eliminar a inveja. E isso sabemos nós que é difícil. Muito mais para os portugueses, não é?
Pois sendo que esquerda é Inveja e Schadenfreude é importante ir dizendo... menos, menos!