Neste últimos dias, assistir á coroação do rei Carlos III tem sido, não direi penoso mas uma mistura disto com nostalgia de um mundo que não mais é ou será. Como já tinha acontecido durante o funeral da rainha tudo aquilo é um mar de “whiteness”. Sim, “whiteness”. E não terão sido pessoas como eu que começaram a conversa nestes moldes, bem mais satisfeitos estariam pessoas como eu em deixar a resolução do novo mundo para uma solução mais “affect” deixando os princípios se adaptarem ao tempo e não esta racionalidade proto-marxista que nos governa endeusando valores que depois nem são particularmente bem definidos. Mas o mundo é como é.
Curioso ver com em alguns dos canais internacionais se acompanha as cerimónias e noutros como a Al-jazerra se dedica um espaço enorme aos protestos anti-monarquia.
E comparem lá este mar de gente contra a quantidade de pessoas em qualquer protesto climático ou político em histriónicos e por vezes violentas manifestações?
Que princípios move esta gente?
E olhando para o mar de gente, o tal amado povo, que acompanha esta cerimónia não podemos deixar de perguntar, em Londres onde a maioria da população até não é étnica e ancestralmente britânica, onde estão as pessoas todas da “diversity"? - Diversity, Equity e inclusion vi nos convidados escolhidos a dedo. Vi zero na manifestação espontânea do povo. Que povo?
É um mar de gente branca. Sim, caucasianos. Sim gente descendentes dos Bell Beakers, que se intitularam um dia anglo-saxónicos. Sim, onde está o mar de asiáticos do sul e da Ásia central que hoje em dia já são parte considerável e mesmo o maior grupo étnico de Londres? E os descendentes de Africanos? – Onde está essa gente muitos deles filhos de gente já nada no reino unido? Sim, onde está essa terceira geração de britânicos a celebrar o seu rei? Nada?
Claro que não estão porque mesmo neto de, continua a olhar para uma cerimónia de celebração de uma história que não é a sua. Porque o passado de todos nós conta!
E as tradições representam uma herança que nos assegura um sentimento de continuidade e algo a que determinada pessoa pertence de forma integral. Mas, acima de tudo, as tradições representam soluções encontradas no passado. Assim:
“Tradition is a set of solutions for which we have forgotten the problems. Throw away the solution and you get the problem back.”
E tudo o que eu vi aqui foi tradição milenar. Foi um evento que advém do século XIII e que representa a continuidade de um sentir de algo que aquelas outras entidades não integram como seu intrínseco porque no momento em que elas ocorriam essas etnias e culturas ainda estavam na verdade na idade do ferro ou até da pedra.
Aquela gente que ali se reúne sente “algo” que os outros não sentem, não é? “algo que já em si advém desde a formação da identidade Europeia com os Bell Beakers do 3º milénio AC. De uma formação identitária que era hierárquica, ritual e baseada em “chiefdoms” e que perdura até hoje. É aquilo que somos e curiosamente nem na terceira geração de “outros” se sente esse subconsciente de pertença.
E quando digo, somos, é esse somos que nos une, ou devia, unir a aquela gente. "aquilo" ali resulta de um conjunto de genes, que gerou um temperamento de gente que criou uma cultura que em si própria é europeia. Sim, outra vez, sim, entre aquele mar de gente ali e você português, se o for, que me lê a distância genética é quase de ... primo. 0.005 de Fst (fixation index) que mede a distância genética entre populações é nada, logo tem tendencialmente um temperamento parecido, logo uma cultura similarmente identificável!
Mas, não se iludam. A nova geração de britânicos tal como os nossos aqui, e o futuro será sempre dos mais novos, a demografia é destino, 78% deles não se revê na Monarquia. – O futuro é tendencialmente marxista, porque o marxismo é em grande medida narcisismo e este reina no mundo de hoje – Alguém que “nasce” meu “superior” é insuportável para um narcisista. E, não nos iludamos, quem nasce para rei nasce “superior” aos restantes porque nasce com constrangimentos impostos pelas tradições milenares, não é?
Por isso uma pessoa (dizia-se um homem) só se deve ajoelhar perante Deus, o monarca (que representa a sua identidade comum) e pessoa que ama. Tudo valores aceitadamente “superiores”.
Enfim, muita gente, especialmente os mais novos, olham para isto tudo e dizem que não se ali alinha com os meus valores. Os “values”. Os nossos valores, ou por exemplo como muito se gosta de falar hoje em dia os valores das democracias liberais… Pois, é. Mas valores até podem governar os nossos comportamentos mas não são princípios! E se valores governam ou instruem os nossos comportamentos no dia-a-dia, não se iludam, os princípios governam as consequências desses comportamentos!
Aquilo que se assistiu hoje uma das ainda visíveis manifestações de tradições milenares, mas também é muito o crepúsculo dos princípios que nasceram para ser soluções de problemas que já nos esquecemos quais eram.