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barradeferro

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Shula maps.png

 Segunda tentativa. E não será a última.

 A importância de clarificar quem eram e como surgiram os Yamnaya é inegável. Eles mudaram o mundo, e não apenas a Europa. A sua genética é encontrada desde Portugal até partes da Ásia Central e na Índia. Se considerarmos as ex-colónias europeias, então estão presentes em todo o mundo.

Quando entrei nesta discussão, em 2015, tudo parecia uma grande brincadeira para um leigo como eu. Tudo era composto por acrónimos estranhíssimos (P312/S116, L21/S145/M529, U152/S28…), haplogrupos, sub-clades e culturas indecifráveis (Maykop, Lepenski Vir, Cultura Khvalynsk), conceitos que não fazem sentido para muita gente.

 Em 2015, as discussões giravam em torno das posições arqueológicas da lituana Maria Gimbutas, com a sua teoria dos Kurgan, em oposição a hipóteses como a teoria Anatoliana de Colin Renfrew. Estas últimas eram completamente descartadas e até ridicularizadas. Nada era aceitável que não fosse a teoria dos Kurgan como origem dos Indo-Europeus, aqueles que falavam PIE (proto-Indo-Europeu), a origem de todas as nossas línguas, desde o alemão ao português, passando pelo lusitano, celta, sânscrito, arménio, etc.

Muitas pessoas não percebem que a origem de todas estas línguas tem de vir de um lugar específico, de um grupo muito pequeno de pessoas, uma cultura única que falava PIE e que inventou os nomes basilares da nossa vida há mais de 6-7 mil anos. Os linguistas conseguem recuar no tempo e determinar o tipo de lugar onde viviam e como era o seu modo de vida. Os nomes ligados à agricultura vêm todos deste pequeno grupo, agricultor complexo e pastorício e que habitava um local com rios e montanhas, entre outros elementos geográficos. Perceber como é que esse grupo, os seus descendentes com todos os subsequentes admixtures genéticos, vieram a dominar o mundo era (é) o Santo Graal.

Indexado a isto estava também a questão de quem era o pai dos europeus. Sim, aquela ideia de que 80% dos europeus descenderem de um único homem que viveu não há tanto tempo assim. Na verdade, as discussões eram sobre o haplogrupo R1b, depois R1b contra R1a. Mais tarde, já não se debatia sobre R1b (porque a coalescência dessa mutação tem 20 mil anos), mas sim sobre onde estaria o M269 (avô), e depois o L23 (pai). Por fim, hoje em dia, tenta-se encontrar o L51, o “pai” de todos os europeus, que terá vivido há 5300 anos! Porque, na verdade, a mutação só acontece uma vez e, se todos temos (80% dos europeus) essa mutação, então vem de um único homem. Curiosamente, por mais que se procure, nos Yamnaya não se encontra o L51. Mas encontra-se o seu irmão, o Z2103 (ambos "filhos" do L23). Hoje em dia, outro dos irmãos adquiriu importância o R-V1636 por aparecer muitas vezes nos lugares certos. 

Duas coisas eram dogma em 2015. Uma era que as montanhas do Cáucaso eram intransponíveis e a outra que os Yamnaya eram a fonte do admixture genético das estepes que todos nós na Europa possuímos. Mas então como explicar a existência das línguas anatolianas (hitita, palaico, lício, lídio, etc.) na Idade do Bronze? Uma coisa os linguistas tinham claro: o anatólio era indo-europeu, mas tinha sofrido um “branch-out” milhares de anos antes das línguas acima descritas. Mas era heresia dizer que não tinham vindo das estepes também! Heresia.

Ora bem, onde entro eu? No meio de toda essa piada, decidi que eu é que ia descobrir qual o “Urheimat”, o ponto essencial dos europeus!
 Li, li, li. Assisti a debates infindáveis sobre Maykop ou as culturas dos Balcãs. Vi verdadeiras violências verbais a quem não aceitasse que os Yamnaya eram praticamente EHG puros (Eastern Hunter-Gatherers), primos mais ou menos próximos dos WHG (Western Hunter-Gatherers), representados pelos homens de Khvalynsk, lá para o meio do rio Volga na Rússia em 4400 a.C. E ai de quem se atrevesse a falar do Levante ou do sul do Cáucaso, verdadeira feridas tribais – Levava com ofensas do pior!

Imaginem como fui recebido quando disse: "Não, vocês estão todos errados. Essa tanga das estepes ou do sul do Cáucaso ou Levante… não diz nada." Levantei o dedo e disse: "O Urheimat dos europeus eram os Shulaveri-Shomu!" --- QUEM!?

Um bocado por culpa minha por ter criado demasiado derivadas nas minhas asserções iniciais, mas a verdade é que o nível de verborreia contra mim, de ser expulso, cancelado, perdido a acesso a fóruns foi tão grande que passado algo como um ano ou dois eu já tinha desistido. Também porque alguns dos papers entretanto publicados eram devastadores para aquilo que era a minha teoria a minha Shulaverian Hypothesis.
Ser considerado um idiota maluco foi uma experiencia interessante para mim.

Foi por essa altura, 2016/2017 que as técnicas de extração de ADN melhoraram imenso e lá para Harvard no laboratório de David Reich ou no Max Planck de Johannes Krauser os indivíduos sequenciados, as ossadas, começaram a sair em catadupa, uns atrás dos outros e com tanto “coverage” que já não era conseguir extrair Y-DNA a grande medida de sucesso, mas estava-se a conseguir extrair BAM files cheios de ADN autossoma que permitia comparações aos genoma total dos indivíduos sequenciados.    

Para vocês verem como as coisas são  - Já sem eu prestar muita atenção um dia uma imagem de um quadro com uns rabiscos por detrás de David Reich durante uma entrevista mostra uma seta do sul do Cáucaso para o norte do Cáucaso. – O choque que aquilo foi e o barulho durante meses.
Não muito depois uma outra imagem de um slide de Johannes Krauser mostra claramente o movimento de pessoas do sul do Cáucaso para o norte do Cáucaso com a data de 4900BC que era a data que eu usava para referenciar o desaparecimento dos Shulaveri e logo a sua dispersão inclusive para o norte do Cáucaso onde teriam formado a etnogéneses dos Yamnaya.
Algo se estava a passar.  Eu reapareci e comecei simplesmente a colocar nos blogs da especialidade a letra da musica de Bob Marley  Bad Boys!:


“Bad boys,bad boys whatcha gonna do whatcha gonna do?
When they come for you?Bad boys bad boys whatcha gonna do?
Whatcha gonna do whatcha gonna do when Shulaveri come for you?”

16 Jun, 2024

Cama Rota!

Observei com certa surpresa a amplitude da concessão argumentativa que se manifestou em diversos setores, desde os comentadores de televisão até o Parlamento português, nos inúmeros artigos publicados pela nossa imprensa e nos discursos políticos de partidos como o PS, a IL e até mesmo a incapacidade do CHEGA de contra-argumentar.

contribuicao social.png

O poder que teve o argumento na sociedade portuguesa que as contribuições dos imigrantes em Portugal representam um saldo positivo de cerca de 1.5 mil milhões de euros. E daqui para frente não houve, que eu tivesse visto ou lido qualquer contra-argumentação.

Há muito tempo, eu chamo a esta situação "a história da Mary e do Peter", e agora acrescento o Manuel português. O que quero dizer com isto? Imagine o seguinte: a Mary coloca a mão no bico quente do fogão. Queima-se e os outros comentam algo como "Ah, queimaste-te!". Mas se o Peter colocar a mão no bico logo de seguida, dizemos "Mas és estúpido?". E o que dizemos quando o Manuel português faz o mesmo?

Deixem-me explicar. Conheço há muitos anos a ladainha da esquerda sobre as contribuições para os regimes de segurança social. Para mim, começou no Reino Unido (a Mary), onde esse argumento foi usado durante anos, até que alguém decidiu fazer um estudo e rapidamente o "NET positivo" se transformou em "NET negativo".

Mais recentemente, o mesmo discurso ganhou força nos EUA (o Peter). Lá, mais rapidamente do que no Reino Unido, as pessoas começaram a fazer contas e, em janeiro de 2024, por exemplo, surgiu o relatório de Steven A. Camarota, apresentado na House of Judiciary Committee, na audiência "The Impact of Illegal Immigration on Social Services", a 11 de janeiro de 2024, que demonstra claramente o impacto total da imigração. Quem quiser pode ler, pois é público (https://budget.house.gov/download/the-cost-of-illegal-immigration-to-taxpayers). 

 “Summary Illegal immigrants are a net fiscal drain, meaning they receive more in government services than they pay in taxes. This result is not due to laziness or fraud. Illegal immigrants actually have high rates of work, and they do pay some taxes, including income and payroll taxes. The fundamental reason that illegal immigrants are a net drain is that they have a low average education level, which results in low average earnings and tax payments. It also means a large share qualify for welfare programs, often receiving benefits on behalf of their U.S.-born children. Like their less-educated and low-income U.S.-born counterparts, the tax payments of illegal immigrants do not come close to covering the cost they create.”

 Foi por isso que achei peculiar a forma como, quando a ladainha sobre as contribuições para a Segurança Social surgiu em Portugal, ninguém, nem mesmo alguém do CHEGA ou comentadores supostamente mais livres da bolha mediática da esquerda, alertou que as coisas não são assim tão simples. As contribuições para a Segurança Social não podem ser analisadas fora do contexto de todos os benefícios sociais. Nada! A intervenção do deputado da IL, creio que Guimarães Pinto, na Assembleia da República, foi até celebrada como um meme de sucesso na nossa imprensa, com a sua voz emotiva e boca cheia de coitadinhos dos imigrantes que estão a pagar as nossas reformas.

Obviamente, não há um estudo sobre o assunto em Portugal, mas não é preciso muito para perceber que, se assumirmos que os imigrantes não são vampiros diurnos que trabalham durante o dia e se recolhem ao caixão à noite, basta olhar para alguns números.

Existem 150.000 crianças imigrantes na nossa escola pública. A 10.000 euros por criança, o custo na escola pública é de 1,5 mil milhões de euros, certo? E pode usar o número que quiser, só isso já demonstra que a realidade não é bem o que nos estão a vender.

Se temos 1.000.000 de imigrantes em Portugal, representando 10% da população, e se a saúde em Portugal custa 23 mil milhões de euros, os 10% que eles representam corresponde a 2,3 mil milhões de euros. Já estamos além dos 1,5 mil milhões das contribuições que eles supostamente fazem.
Além disso, os salários pagos a imigrantes na verdade não geram IRS, a sobre representatividade de imigrantes nas nossas prisões (15% … não façam pergunta sobre etnia desses portugueses que por lá estão) ou coisas mais pequenas nos transportes públicos ou impacto nos preços das casas, e assim por diante.

 Em resumo, pode usar as variantes que quiser dos números, as percentagens que quiser, a verdade é que o argumento usado nos últimos meses para calar as vozes críticas à imigração é uma falácia, uma "pista falsa" (red herring).

Haplos Yamanya.png

Nem sei bem quantos posts escreverei sobre este assunto. Talvez só este, talvez vários.

Aliás, nem sei bem como escrever sobre o assunto. Isso porque o objeto deste post é extremamente importante para mim, mas pode não ser para os outros. Acho eu.

Vamos criar um pouco de contexto.

 

Quem somos nós? Até há bem pouco tempo, cerca de 20 anos, a ideia de "nós" – e "nós" pode ser qualquer grupo populacional – era moldada pelas interpretações de arqueólogos e historiadores. O que é ser europeu? E indiano? E africano?

Hoje, acredito que a identidade de um grupo pode ser resumida ou determinada pela homogeneização dos SNPs e alelos do ADN dessas pessoas. Porque a heterogeneidade, definitivamente, não é a norma. A diversidade não é funcional a este nível; um grupo atinge determinada homogeneidade e nessa altura a comunalidade do temperamento cria uma cultura que se manifesta em comportamentos mais ou menos descritivos daquele grupo. Assim, eles se identificam uns com os outros.

Por exemplo, o que é ser português no sentido mais amplo, ou no sentido acima descrito? – Uma população com 4.400 anos. Sim, 4.400 anos. E já vão entender por que isso é importante. Há 4.400 anos, chegou à Península Ibérica uma população carregada de admixture genética das estepes da Ucrânia, a componente Yamnaya presente em todos os europeus ou, se preferir, em todos os indo-europeus, desde populações da Ásia Central até Portugal. Esta população chegou e tudo o resto cessou. Tal como em toda a europa foi esta identidade Bell Beaker que criou o Europeu. O Europeu genético, o europeu cultural.

Essa população cheia de Genética Yamnaya (e este série é toda sobre eles) chegou à Península Ibérica na mesma época em que chegou ao Reino Unido, via Bell Beakers (ou campaniformes). No nosso caso, e também no caso dos espanhóis, os homens desse impressionante grupo que entrou na Ibéria eram os DF27 (R1b-DF27), enquanto no Reino Unido eram os L21. Todos irmãos.

No entanto, poucas pessoas sabem que os DF27 dos espanhóis hoje têm uma mutação chamada Z195, que os portugueses não possuem. E essa mutação Z195 tem a mesma “idade” (TMRCA) que o pai DF27. Todos os espanhóis, incluindo os bascos, são Z195, o que é inexistente em Portugal. Claramente, espanhóis não geraram descendência com portugueses nos últimos 4.400 anos. Isso é intrigante, considerando a disseminação total dos Z195 na Espanha e sua ausência em Portugal.

 Isso significa que Portugal não é um país devido a eventos históricos como a batalha de Ourique ou os feitos dos condes; Portugal é um país porque os “espanhóis” sempre consideraram que além daqueles rios e montanhas, mandam os que lá estão, e pronto. Se pensarmos bem, isso é fascinante.

 Até mesmo os celtas, os celtas do sul da Alemanha, Áustria, Boêmia e Hungria (1000-100 a.C.), eram geneticamente portugueses (Ok, ibéricos). Todos nós aprendemos sobre a chegada dos celtas como algo exógeno, mas, na verdade, eles eram curiosamente iguais a nós geneticamente. Aliás, o ressurgimento nas ilhas britânicas das componentes EEF (Early Eastern Farmers) e WHG (Western Hunter-Gatherers) na Idade do Ferro é agora atribuído a esses celtas vindos da Europa Central, que, na verdade, eram geneticamente próximos dos ibéricos.
Só de pensar que os celtas de Hallstatt, na Áustria, eram na verdade geneticamente ibéricos... Curiosamente, esses celtas que lutaram ferozmente contra os romanos eram geneticamente "iguais" aos... romanos. Ainda hoje, a distância genética entre portugueses, espanhóis e norte-italianos é praticamente zero!

Isto pode explicar uma das estranhezas da pré-história portuguesa. Porque é que vemos os celtas a entrar por Portugal nos séculos VIII e VI a.C pelo corredor que leva ao Alentejo, entrando na terra dos ferozes Turduli, e a seguir vemo-los a passear todos juntos e sem problema pelas terras dos lusitanos, pelas terras dos Turduli Veteres (Porto), atravessando o Douro até à Galiza. Está explicado. – Olharam para os celtas a chegar e perguntaram: “Primo, que te traz por aqui?”.

E pronto… Não escrevi nada do que queria escrever.

Aliás o que me motiva a escrever esta serie só marginalmente tem a ver com isto que escrevi até aqui, porque o que eu quero escrever é sobre a origem destes tais Yamnaya e não sobre estes eventos de pessoas carregadas de admixture genético Yamnaya mas … 2,000 mil anos depois.

Aliás nem é sobre os Yamanya que eu quero escrever!

É sobre mim, é sobre uma das mais perplexidades da minha existência que é a minha batalha dos últimos 10 anos contra todos.  E estes todos inclui Harvard ou até o Max Planck Anthropology em Leipzig para agora ter razão e nem por isso ter qualquer crédito por ter sido a voz isolada a colocar um pin no sitio (cultura) exata que deu origem a “nós” como entidade pelo menos linguística e genética.
Enfim, tento no próximo post desta série.

Qual a questão que mais vos assusta na modernidade?

De todas mesmo, qual a questão que mais desejam que as vossas suspeitas ou meramente dissonâncias como no meu caso, sejam demonstradamente erradas?
Para mim, hands down, é: E se havia um imperativo para que as mulheres fossem colocadas à parte nos movimentos sociais. Dito de forma mais crua se havia uma razão para as mulheres estarem na cozinha e não entrem na sala quando os homens "estavam a falar". – Nada é mais assustador que isto.
Para mim, até há bem pouco tempo, mesmo talvez 3-5 anos, não era sequer assunto. O patriarcado era meramente uma manifestação do stress ecológico, logo quando a história removeu esse stress ecológico nas sociedades que hoje são desenvolvidas deixou de haver necessidade e o mundo estaria a adaptar-se. Não consideraria mais que isso.

Contudo, tenho um princípio, que é o seguinte: “Se todas as tradições são soluções de problemas que já nos esquecemos quais eram, então se estás a remover a tradição explica lá qual era o problema e qual a nova solução”.
No caso da igualdade de género abria uma exceção porque era tão óbvio que nem valia a pena explicar.

 Nos últimos anos tenho tido esse incómodo.
Como já aqui expliquei todos os estudos sobre por exemplo desigualdade de remuneração nos mostram que o género da pessoa não é relevante mas sim outras variáveis. Nesse caso o neuroticismo e afabilidade são de longe as maiores variáveis. Ou seja, um homem que possua maior neuroticismo ganha menos que uma colega do género feminino que possua menor neuroticismo. O mesmo para a afabilidade.
Ora, acontece que as pessoas do sexo feminino se caracterizam por valores realmente muito mais altos no neuroticismo e afabilidade.


“Neuroticism is a personality trait associated with negative emotions. It is one of the Big Five traits. Individuals with high scores on neuroticism are more likely than average to experience such feelings as anxiety, worry, fear, anger, frustration, envy, jealousy, pessimism, guilt, depressed mood, and loneliness”

 Qualquer leitor atento repara no dimorfismo político-social existente. É uma realidade observável em todas as estatísticas que já consultei. Os homens, de todas as faixas etárias, que são cognitivamente de esquerda (extrema ou não), os homens que são "woke", que são "liberais", estão ao mesmo nível estatístico, mas nas mulheres os valores estão a atingir níveis estratosféricos.

São diferenças "estratosdiabólicas"!
Os movimentos nas sociedades ocidentais que são mais socialmente radicais, que eu considero aberrantes nas opções educacionais, médicas, nas visões destrutivas da sociedade, algumas até à liquidação de todos os normativos que determinam quem somos, estão sobre representados por mulheres. Estes movimentos são caracterizados pela aceitação de tokenismos, ausência total de instinto somático e submissão à pressão social... e são dominados por mulheres.
Mas por que falo disto agora? Porque há apenas uma semana estava a ler este estudo:

 neuroticism sociedades .png

https://osf.io/preprints/osf/rvw93

 E o que nos diz é que não só as diferenças de personalidade entre os sexos crescem exponencialmente em sociedades mais desenvolvidas, mas também se observa as mulheres a pontuarem muito mais alto em neuroticismo e afabilidade em países mais desenvolvidos e igualitários em termos de género.

Este estudo acima tem como objetivo desvendar o papel da igualdade de género e da riqueza económica no aumento das diferenças de género/sexo nos traços de personalidade entre países, indicando que as diferenças de género/sexo em dois traços de personalidade - Neuroticismo e Afabilidade - são particularmente proeminentes em amostras de países economicamente desenvolvidos e igualitários em termos de género. Na ausência de desenvolvimento económico (ou seja, em países com presumivelmente níveis mais altos de stress ecológico), a igualdade de género não desempenha um papel independente no tamanho da diferença de género/sexo nesses traços de personalidade. O estudo suporta a perspetiva dentro da teoria evolutiva — conhecida como diferenças sexuais evoluídas emergentemente moderadas — que postula que as diferenças de género/sexo nos traços de personalidade são geneticamente predispostas e, ainda assim, sensíveis a influências ambientais e ecológicas. 

Basicamente, em países mais economicamente avançados, as diferenças de género/sexo em traços físicos ou psicológicos como Neuroticismo e Afabilidade não são mais suprimidas ou moderadas pelo stress ecológico. Assim, mulheres e homens podem expressar as suas características sexuais evoluídas específicas e a diferença entre eles aumenta.

Sinceramente, não sei o que fazer com esta informação. Sei que o neuroticismo é disfuncional, vemos isso na vida profissional e pessoal das pessoas, na sua felicidade e estabilidade mental. E a nossa resposta como sociedade é implementar quotas? É garantir que todos os aspetos e setores de poder nas sociedades têm representatividade feminina? Sem garantir mecanismos de segurança que protejam as sociedades da kryptonita que é o neuroticismo e da incapacidade de ser "mauzinho" que é tão fundamental em aspetos críticos da sociedade humana?

 Não sei o que fazer com tudo isto...

06 Jun, 2024

Elite meu avô

Esta é uma história de um avô, filho e neto.
Este imagem inicial é de Manuel Joaquim... Rebelo de Sousa. Mas não é o avô do título.

Antonio rebelo de sousa.jpeg

«….não é que faz o monge, e por tanto o que nos torna differentes uns dos outros, são as boas ou más acções que cada um de nós pratica...»

Este texto acima é um dos conselhos publicado em 1875 pelo bisavô de Marcelo rebelo de sousa, Manuel Joaquim, aos filhos que estavam no Brasil. - Não é o avô é o bisavô e aos aos filhos no Brasil. Como a história se repete, não é?
E apesar de já se poder considerar elite o filho deste senhor Manuel Joaquim, um tal de Antonio Joaquim, ainda não é ele nem o "elite" nem o "avô" desta história.
Sendo que elites são um pequeno grupo de pessoas que detém uma quantidade desproporcional de riqueza, poder ou influência na sociedade.

O avô que quero falar, apesar de os anteriores já se poder considerar elite em Portugal, é de Baltazar Rebelo de Sousa.
Poderia fazer rendilhados intermináveis, mas isto é simplesmente um texto sobre o facto de as pessoas não perceberem bem porque o populismo é importante.
Voltando a explicar o que já em tempos escrevi, o povo é burro, mas por norma tem instinto para escolher as suas elites e estas mesmo de forma por vezes vieses tem por atributo zelar pelo povo orientando, vetando e controlando as políticas.
 O populismo é importante porque serve como um mecanismo crucial para representar e atender às preocupações e queixas das pessoas comuns que se sentem marginalizadas ou negligenciadas pela elite política e económica. Ao destacar e responder às necessidades da população em geral, o populismo pode revigorar a participação democrática, promover a justiça social e desafiar estruturas de poder estabelecidas que podem ser insensíveis ou desconectadas dos interesses públicos.

 baltazar rebelo de sousa.jpeg

Ora nem a propósito! Porque escrevo este post? – Porque Baltazar Rebelo de Sousa era uma elite, ministro e coeso ao governo e políticos, do anterior regime.  O filho de Baltazar, um tal de Marcelo

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, chega a presidente do país já após uma mudança de regime que abomina o anterior e comporta-se como a elite mais elite. E o Neto de Baltazar, um tal de Nuno,

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emigrado no Brasil tal como os bisavôs dele, agarra no telefone e consegue nacionalizar brasileiros em 15 dias e fazer com que o estado pague medicamentos de 4 milhões de euros que são recusados a nacionais desse país!

A culpa não é deles. É nossa. E essa constatação é que é demolidora.

Quando os registos da verdade deixam de ser físicos e tudo se torna digital, quando as respostas a perguntas sobre fatos nos são transmitidas em forma de narrativa universal e aprovada, passamos do mundo de Orwell para algo além.

"And if all others accepted the lie which the Party imposed—if all records told the same tale—then the lie passed into history and became truth. 'Who controls the past,' ran the Party slogan, 'controls the future: who controls the present controls the past.'"

Não se iludam. Em quem depositamos a esperança de manter a sanidade histórica e evitar reconstruções orwellianas que representam não realidades do passado, mas ideologias do futuro, especialmente quando a inteligência artificial está envolvida?

Poucos duvidam do que está por vir. As pessoas precisam ter noção do perigo que a inteligência artificial representa, pois em breve ninguém saberá distinguir verdade de mentira.

Como sabem, para refutar algumas das narrativas sobre a escravatura, especialmente as provenientes dos americanos, frequentemente recorro ao caso de Sah Quah. Este caso não é apenas formativo na lei americana, mas também destrói completamente a narrativa oficial ocidental sobre a escravatura.

Recentemente, recorri ao ChatGPT para verificar algo sobre o qual não tinha certeza e acabei envolvido numa troca de argumentos interminável. O ChatGPT insistia que Sah Quah, um nativo americano que ainda era escravo 20 anos após o fim da escravatura nos EUA, era mantido escravo por um capitão russo chamado Alexei Baranov, e não por Na-ki-Klan, um também nativo. Inacreditável.

Por mais referências que eu apresentasse mostrando que Na-ki-Klan era nativo, o ChatGPT reconhecia minha confusão, mas afirmava que Na-ki-Klan era o capitão russo, conforme citado por "várias fontes e textos académicos." Quando insisti para que me desse um exemplo de um desses textos, a inteligência artificial não conseguiu apresentar um único, porque obviamente não existe!

A conversa terminou onde começou. A narrativa nunca mudou, apesar das minhas tentativas de direcioná-la para os relatos da época.

Mais curioso ainda, bem mais curioso:
Voltei a colocar a questão ontem e apesar de ter mudado de tom, reparem como tenta perverter a verdade. Aliás até diz que Sah Quah era uma mulher (?!). Parece inclusive reconhecer que já tinha tido uma interação comigo e tenta reconhecer confusões passadas nas conversas que já terá tido comigo o que eu não sabia ser o caso e confesso que me preocupa que guarde essas informações porque claramente viola o direito da privacidade (não que eu queira saber, mas). Sah Quah nada tinha a ver com Russos, ou Americanos. Isto é tudo bizarro. 

O caso de Sah Quah é muito simples: Um escravo índio, propriedade de outro índio, 20 anos após o fim da escravatura era possível porque a lei americana reconhecia o direito dos povos nativos de manter as suas tradições. Com o caso de Sah Quah a lei mudou porque esse reconhecimento tinha que ter limites e a escravatura era um desses limites.

Mas vejam a resposta parva do GPT, mesmo hoje em dia e já sendo GPT4:

 in the case of Sah Quah who was Na-ki-Klan?

ChatGPT

Na-ki-Klan, also known as Ki-na-Klin, was a Tlingit noble who played a significant role in the captivity of Sah Quah, a Tlingit woman. In the historical context, Sah Quah, also known as Mary, was taken captive during a conflict between the Tlingit people and Russian settlers in Alaska. This case is significant because it highlights the complexities of indigenous slavery practices and their interactions with European colonial powers.

The confusion around the identity of Na-ki-Klan arises from different historical accounts and the interactions between various cultural groups, including the Tlingit, Russians, and Americans. Na-ki-Klan was indeed a Tlingit leader, not a Russian, which underscores the importance of accurate historical representation and the potential for misunderstanding when relying on secondary sources or digital narratives.

Enfim, isso não vai acabar bem.

01 Jun, 2024

Crises compradas

No meu post anterior, posso ter falado de Marselha mas para muitos pode não ser claro o que é Marselha, enquanto contexto social, hoje em dia. Num pais que está entre os 30 mais elevados no HDI (Human development Index) das nações unidas o tipo de título na imagem é aberrante.
No entanto é isto que estamos a importar. Não é uma experiência nova é uma que já tem décadas de duração, logo podemos ver o resultado!

Captura de ecrã marselha crise humanitaria.png

 

E o quadro pintado é o seguinte:

Passou de uma das cidades vibrantes da Europa para ser a Marselha, uma das cidades mais desfavorecidas de França.

Crime e Violência:
Violência de Gangues: Marselha tem um problema com a violência relacionada a gangues, especialmente nos bairros do norte. Isso inclui o tráfico de drogas, que frequentemente leva a confrontos violentos.
Crimes Menores: Furtos, roubos e vandalismo são relativamente comuns, afetando tanto residentes quanto turistas.

Desigualdades Economicas:
Desemprego: A cidade enfrenta altas taxas de desemprego, particularmente entre os jovens e as populações imigrantes. Isso contribui para a instabilidade econômica e a tensão social.
 Pobreza: Grandes porções da população vivem na pobreza, com acesso limitado a educação de qualidade, saúde e serviços sociais.

Crise Habitacional:

 Habitação Precária: Muitos residentes vivem em moradias de baixa qualidade, incluindo apartamentos superlotados e edifícios inseguros. A infraestrutura envelhecida da cidade agrava esse problema.
Sem-abrigo: A questão dos sem-abrigo continua sendo um problema crítico, com um aumento visível no número de pessoas vivendo nas ruas.

Integração e Coesão Social:
Integração de Imigrantes: Marselha abriga uma grande população de imigrantes, que às vezes enfrenta desafios para se integrar à sociedade mais ampla. Barreiras linguísticas, diferenças culturais e discriminação podem dificultar a coesão social.

Exclusão Social: Certos bairros experimentam altos níveis de exclusão social, levando ao isolamento e à falta de oportunidades para os moradores.

Desafios na Educação:

 Taxas de Abandono Escolar: A cidade enfrenta altas taxas de abandono escolar, particularmente em áreas desfavorecidas. Isso afeta as perspectivas de emprego futuro e perpetua o ciclo de pobreza.
Qualidade da Educação: Existem disparidades na qualidade da educação fornecida, com escolas em bairros mais pobres frequentemente carecendo de recursos e apoio.

Serviços Públicos e Infraestrutura:
Transporte Público: Embora Marselha tenha um sistema de transporte público, ele é frequentemente criticado por ser ineficiente e pouco confiável, especialmente na conexão de bairros mais pobres ao centro da cidade.
Acesso à Saúde: O acesso aos serviços de saúde pode ser desigual, com comunidades marginalizadas enfrentando tempos de espera mais longos e menos recursos.