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barradeferro

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Vou escrevendo sempre que encontro algo a que não consigo resistir.

Há algum tempo já tinha percebido que o número de “portugueses” guardados em caixotes nas arrecadações de museus ou em locais semelhantes seria suficiente para, tal como tem sido feito noutros países nos últimos sete anos, construir uma "história genética dos portugueses nos últimos milénios".

Contudo, como o interesse da nossa imprensa por estes temas é praticamente inexistente, foi com alguma surpresa que me deparei com a publicação de um estudo no mês passado (penso que a 17 de setembro).

O estudo, intitulado The genetic history of Portugal over the past 5,000 years” de Xavier Rocada et al., analisa a evolução genética em território português.

Grande parte das descobertas destes “indivíduos” surgiu em obras públicas, como a construção da CREL, ou do trabalho de mecenato em Perdigões, na herdade de José Roquete. Das amostras retiradas, são gerados ficheiros BAM, contendo toda a informação genética possível (cobertura), e esses dados são processados por modelos computacionais, que tratam do resto da análise.

É claro que o trabalho, sendo realizado com arqueólogos, acaba por tocar nas questões das relações históricas. Mas tudo bem, faz parte. Para mim, a maioria das conclusões era previsível e já conhecida. No entanto, houve algumas surpresas. Por exemplo, descobri que foi o Império Romano que trouxe para Portugal pessoas do Norte de África. Isso implica algo que, na verdade, devia ser óbvio: a cosmopolização romana trouxe gente do Norte de África, e quando o Islão chegou ao ocidente do norte africano, este atravessou o estreito, apoiando-se nas populações que os romanos já tinham trazido para a Península Ibérica, especialmente para Portugal. Nunca tinha pensado nisso dessa forma - Os romanos foram o cavalo de troia para a Península Islâmica.

Escrevo este post também porque, enquanto lia o estudo, recordava as inúmeras vezes que ouvi comentadores, analistas e políticos, como aquele notável mas irrelevante do PSD que já nem me lembro, afirmarem que Portugal é uma amálgama de migrantes, uma mistura de povos que por aqui passaram ao longo dos tempos, e que é ridículo falar de singularidades ancestrais dos portugueses, considerando Portugal um "hub de migração" que eles quase que têm a obrigação de perpetuar.

O estudo, embora de forma muito discreta e menos do que eu esperava, também faz essa abordagem. No entanto, o mais relevante são sempre os suplementos dos papers, onde a verdadeira “data” está representada.

Esta imagem, que junto aqui, é uma representação gráfica do ADN dos portugueses ao longo do tempo, comparando a composição genética dos indivíduos ancestrais do território nacional sequenciados com a de outras populações ancestrais e atuais fazendo cada uma delas parte da iconografia do referido paper e que eu juntei numa mesmo imagem e coloquei bolas e as linhas:

Portugal ADN vFINAL.jpg

 

Agora, se acompanharmos imagem a imagem, milénio a milénio, vemos que os portugueses permanecem geneticamente no mesmo ponto ao longo de seis mil anos. Falam de um "hub de migrantes", de uma interação milenar, mas ao olharmos para as imagens, os portugueses mantêm-se sempre no mesmo lugar!

Neolítico e Calcolítico – Há seis mil anos, chegaram grandes quantidades de populações para formar uma composição sólida de ADN, com os agricultores neolíticos e os caçadores-recoletores ocidentais (WHG), que dominaram a Europa durante dezenas de milhares de anos. Esta combinação genética deu origem aos megalíticos, como os que se encontram em Évora e que culminam em Stonehenge, no Reino Unido. Sim, eram as mesmas pessoas com a mesma composição genética!

Idade do Bronze e do Ferro – Este admixture formou a base dos europeus, e, embora haja atualmente uma obsessão com os Yamnaya, a verdade é que a sua chegada pode ter eliminado as linhagens masculinas (Y-Dna) teve pouco impacto na distribuição e colocação do ADN português porque já era tudo a mesma matéria genética. Os Yamnaya eram uma mistura de caçadores-recoletores orientais (EHG), caçadores do Cáucaso (CHG) e agricultores da Anatólia (EEF) mas os EHG e CHG na verdade eram genéticamente primos do WHG componente que era abundante nos habitantes ancestrais de Portugal e assim o núcleo genético português já estava fortemente estabelecido há seis mil anos. Vemos isso claramente nas imagens do ADN ao longo dos milénios, com poucas alterações na sua composição genética.

Portugal Romano – Durante o Império Romano, vemos uma maior diversidade no ADN, com a inclusão de indivíduos provenientes do Mediterrâneo oriental e, em dois casos,  puros norte-africanos. Este fenómeno é comum em todos os impérios que move pessoas de geografias muito diversas.

Visigodos – A chegada dos visigodos trouxe pouca ou nenhuma mudança genética, mantendo a composição ancestral dos portugueses no mesmo ponto até porque gene por gene o deles não era assim tão diferente.

Idade Medieval e Islâmica – As amostras medievais continuam no mesmo lugar, enquanto as amostras associadas ao período islâmico são distintas, com alguns indivíduos puramente magrebinos. 

Século XVII – Mais uma vez, a população mantém-se geneticamente onde sempre esteve como o reflexo de uma âncora ancestral á memória de algo maior do que o mero fluir do tempo e cujos descendentes parecem determinados a destruir o mais rápido possível.

Na imagem seguinte, fiz uma sobreposição de todos os indivíduos ao longo dos milhares de anos, e, se retirarmos as formas e legendas, seria quase impossível distinguir as populações de há seis mil, quatro mil ou mil anos, de qualquer português de hoje que vive numa vila do interior!

Portugal dna Sobreposto.png

.Acho que não há muito a fazer para alterar o rumo da história, mas da próxima vez que ouvir falar da efetividade da "diversidade" e da "construção de novas reformulações culturais" que mais não é que uma nova Roma da fase decadente como se fosse modelo de futuro, bastará recordar estas imagens e perguntar: A quem perguntaram ou pediram autorização para matar uma estrutura étnica e identitária com 5000 mil anos?

Somos como todos os Europeus aquelas misturas e o tal resultado de tanto Hub civilizacional, tanta misturas de gentes...são os 5% Iberomarusiano dos berbers, dos amazigh,  do nosso ADN? 

Eu acho que as pessoas não fazem por mal mas sim por ignorância e fraqueza de espírito moldada por marxismos dos anos 60. Mas ainda assim...