“"Across all of our experiments, we've tested maybe 30,000 people, and we had a dozen or so bad apples and they stole about $150 from us. And we had about 18,000 little rotten apples, each of them just stole a couple of dollars, but together it was $36,000. And if you think about it, I think it's actually a good reflection of what happens in society."”
Não gosto do Ali Babá. Mas gosto menos dos 40 ladrões.
Quando alguém me chama de forma veemente atenção para o Ali baba fico imediatamente atento aos 40 ladrões. Tal como Dan Ariely nos demonstra nos seus estudos será de dar menos atenção aos Oliveira e Costa e o Duarte Lima deste mundo (é punir rápido e exemplarmente) e estar bem mais atento aos 40 ladrões. E penso que nos 40 ladrões haverá gente de todos os quadrantes políticos. Contudo o modo como o fenómeno é percepcionado já será bem diferente… e isso é mais importante do que parece.
Em 30 mil pessoas encontra-se em média 12 Ali babás (big cheaters como OeC) que roubam ao grupo cerca de 150 euros. Ora no mesmo grupo de 30 mil encontra 18 mil pequenos violadores da norma (little cheaters) que roubam ao grupo 36,000 euros. Repito: 150 euros para 36 mil euros (na verdade ele fala de dólares). Enquanto a esquerda se distrai a falar repetidamente do Ali babá, os 40 ladrões roubam a casa toda. E do ponto de vista dos 12 mil que não são nem big nem little cheaters quem verdadeiramente os prejudica, quem verdadeiramente mina o mundo onde se movem, quem verdadeiramente os explora são os little e não os big. Sendo a direita muito mais sensível à codificação de valor (reward) nas opções/decisões (no Vmpfc e OFC) do que os atributos de cada dessas opções (como o valor subjectivo de quanto retira para si cada um dos intervenientes) é natural que se emocione/excite menos com as histórias sonantes desses big e não consiga tirar os olhos dos littles a limpar a gruta. É que os 12 “banqueiros” roubam-lhe 1 cêntimo ( 0,012) mas os 18.000 pequenos “free riders” roubam 3 euros cada um, ou seja 250 vezes mais. Para a esquerda os 12 euros que cada banqueiro arrecada, como são self-referential sempre (por imposição da Insula comparam-se com) é que os desassossega e não os 3 euros que são retirados por cada um outros (indo dar aos 36,000 euros).
Claro que existem Ali babas (e deveríamos manda-los para a cadeia e atirar fora a chave com a maior rapidez possível e mostrando como exemplo) mas a verdade é que para o sistema (economia, democracia, etc.) quem efectivamente corrói os alicerces, acaba com o sistema (economia, estado social, etc.) são os 40 ladrões (36,000 euros) e não propriamente o Ali babá (150 euros).
Assim e para terminar, não deixa de ser curioso que Ariely também tenha descoberto que para inibir este comportamento é suficiente um código moral, qualquer que seja, mesmo que não seja um código moral do little cheater. Aquilo que faz com as sociedades fiquem desequilibradas neste sentido é a ausência de códigos e simbologias (morais, religiosos etc.). E as pessoas não deixam de ser desonestas ou corruptas porque fazem uma análise de custo/beneficio ou probabilidade de ser apanhadas, nada disso parece ter grande impacto na decisão de ser desonesto (novamente Ariely). O maior culpado são as racionalização, as as ambiguidades e desculpas que as pessoas arranjam para justificar o que fazem (DLPFC). Tudo o que contribua para relativizar o acto serve o propósito: desde a criatividade até ver/praticar outros actos imorais até o beneficiar terceiros e não só o próprio. Já em sentido contrário, lembrar as pessoas de postulares morais, assinar, falar de honra (eu devo fazer) … promove a que as pessoas não comentam actos desonestos.
… Quem é que gosta de relativismo moral, quem é que detesta códigos morais fixos?