A crise económica em Portugal

Quem me conhece sabe que eu entendo que ser de esquerda é a reminiscências do homem do paleolítico, do caçador-recolector e que ser de direita é o reflexo nos nossos genes do agricultor do neolítico, dos 10,000 anos que moldaram a evolução. Siga a psicologia de alguém de direita e encontra o agricultor neolítico: A ideia do semear para colher, o guardar para semear, o sacrificar para colher, a propriedade como sagrada - atributo dado pelo sacrifício feito até à colheita (período em que se passava fome) que até á redução na altura das pessoas levou (e a pessoas mais esguias)... Mas 50,000 anos de psicologia paleolítica não se apagam.
Deixem-me, no entanto, ir direito ao assunto! – A importância da ACC (Anterior Cingulate Cortex) na psicologia de esquerda vê-se no modo como os portugueses (de esquerda na sua essência) abordam toda esta questão da crise económica. Quando estamos a viver, a tomar opções e decisões temos que apurar qual o valor expectável. Como seres inteligentes e com memória, a valia de algo estará em grande parte codificado algures entre o OFC (Orbifrotntal cortex) e o VMPFC ( Ventromedial prefrontal cortex) e está lá escrito em pedra (mais ou menos) como expected outocome (resultado expectável). Não se iludam é aqui, na redução da incerteza, que vivem as pessoas de direita: existe um plano, ele representa o melhor que se consegue apurar pela avaliação do resultado expectável das opções possíveis e é para ser executado. Foi assim com o plano do Sócrates, foi assim com a troika e o actual governo. Reduzir o deficit (que ao final do dia é dívida) e inverter as condições macro económica como a balança comercial, cobrir os investimentos com as poupanças, procurar incrementar o peso dos bens transaccionáveis na economia. Ou seja, vamos semear, vamos sacrificar e vamos colher. Este é o mundo da direita. Expected outcome das opções tomadas (que não quer dizer que estejam corretas ou que se concretizem) determinadas pela confiança cega que possuem que a sua VMPFC/OFC (que dominam) realmente olhou para as várias opções e escolheu a acertada e sem sobra de dúvida a mais adequada para o objectivo (goal) que se está motivado para atingir (kennerly et al).
Mas entra a ACC. E a esquerda vive confortável na ACC. - E neste caso a função da ACC é integrar informação que promova (reinforcement) determinados actos/comportamento com base na informação que recolheu num período temporalmente contíguo avaliando o seu expected value (não o outcome ), dito de outra forma qual a sua utility – que se vai realmente ganhar com isso.
Ou seja a esquerda integra o que se está a passar à sua volta (ou que se passou recentemente) para perceber qual o comportamento que deve assumir: Este encode entre os resultados e a actuação imediatamente a seguir é o domínio da ACC e da DLPFC (o A e o D do pathways de esquerda). A direita, considerou as opções, atribui-lhe um valor, escolheu aquela que acha é a correta… mas integra muito mal (tardiamente) as consequências que ocorre durante o discorrer do plano (o que tanto pode ser bom como mau).
O que é computado na ACC vai tentando impor alterações no comportamento (imediatas) conforme as recompensas que se vai obtendo no decorrer do processo. Austeridade, desemprego, impostos (negative outcomes) são imediatamente computados como erro e o cérebro de alguém de esquerda grita, erro, erro, erro! A não concretização de impactos anunciados (como cortes ou reduções salariais) que não se concretizam são imediatamente computados como recompensas (rewards) e como a ACC está sempre a calcular, a integrar, as ultimas recompensas/erro no average do cálculo de probabilidades de acção-efeito, cada vez que uma medida em Portugal não é concretizada (seja por acção do TC ou outra) vai reforçar o comportamento das pessoas de esquerda. E não esquecer que esta pathway de esquerda liga muito à working memory da DLPFC (memória de trabalho).
Já estão a perceber o trabalho dos media? – Os media (composto na essência por pessoas de esquerda) não processam relações de expected outcome, nada disso, reproduzem infindavelmente os efeitos (fictive ou reais) para alimentar essa working memory que por sua vez incita cada vez mais a ACC a determinada visão ou comportamento. E a cada vitória da esquerda mais o referido comportamento se torna repetido, na verdade muito como uma bola de neve, como um crescendo, cada vez … reinforcement history to guide their choices. É sempre o momento actual e o seu peso relativo, e não o passado nem o futuro, que interessa.
Nós tínhamos verdadeiramente duas hipóteses: abandonar o euro e isso muito provavelmente concretizaria cenários em que se dava um default da dívida soberana (se não para quê sair), por conseguinte um default das empresas e o colapso do sistema bancário. Cálculos de um custo por português a rondar os €9,0000-€11,000 logo na saída e de €3,000-€4,000 nos anos subsequentes não andarão muito longe da realidade. Logo uma contracção do PIB a rondar os 40%-50%.
Óbvio que opção por opção ter reduções de 3% ano no PIB bate qualquer dia da semana conscientemente promover contracção de 40%-50% do PIB num só ano…. Contudo, para quem é de esquerda isso é matéria de certa forma irrelevante. A opção escolhida (austeridade), tal como é apresentada diariamente aos portugueses dominada pelos seus efeitos negativos provoca no cérebro de esquerda mais erros do que uma versão beta do Windows. Se todos os dias na televisão passasse 20 minutos de segmentos mostrando o que seria a nossa vida fora do euro e com uma contracção do PIB a rondar os 50% no essencial todos estes “erros na ACC” tinham um contributo bastante mais reduzido para o average das consequências nefastas que a nossa actual situação elícita. Para alguém de direita a única pergunta que faz todos os dias é “are we there yet? Are we there Yet?” e todas as estratégias de delonga, de dilação, são profundamente perturbadoras porque só servirão para prolongar aquilo que (na sua opinião) é inevitável, aquilo que ele (certo ou errado) tem como expected outcome.
Reparem que nenhuma das duas formulações parece ser verdadeiramente correta ou se quiserem apropriada. Ser escravo do carpir das presentes agruras, com vista ao presente hedonístico (alivio das condições), não vai resolver nada (atira-nos para fora do euro quando muito) por muito folclore que seja feito e por muito bem até que descreva as falhas racionais subjacentes à opção da direita (baixa utility do esforço) que falha porque uma dívida pública de 130% do PIB dificilmente será pagável ou resolúvel mesmo que se atinja equilíbrios macroeconómicos nem sequer sendo claro que existe uma recompensa futura que nos vai permitir não pagar a dívida (parte) e continuar no euro.
Quem é capaz de formular então as proposições corretas?