Cama Rota!
Observei com certa surpresa a amplitude da concessão argumentativa que se manifestou em diversos setores, desde os comentadores de televisão até o Parlamento português, nos inúmeros artigos publicados pela nossa imprensa e nos discursos políticos de partidos como o PS, a IL e até mesmo a incapacidade do CHEGA de contra-argumentar.
O poder que teve o argumento na sociedade portuguesa que as contribuições dos imigrantes em Portugal representam um saldo positivo de cerca de 1.5 mil milhões de euros. E daqui para frente não houve, que eu tivesse visto ou lido qualquer contra-argumentação.
Há muito tempo, eu chamo a esta situação "a história da Mary e do Peter", e agora acrescento o Manuel português. O que quero dizer com isto? Imagine o seguinte: a Mary coloca a mão no bico quente do fogão. Queima-se e os outros comentam algo como "Ah, queimaste-te!". Mas se o Peter colocar a mão no bico logo de seguida, dizemos "Mas és estúpido?". E o que dizemos quando o Manuel português faz o mesmo?
Deixem-me explicar. Conheço há muitos anos a ladainha da esquerda sobre as contribuições para os regimes de segurança social. Para mim, começou no Reino Unido (a Mary), onde esse argumento foi usado durante anos, até que alguém decidiu fazer um estudo e rapidamente o "NET positivo" se transformou em "NET negativo".
Mais recentemente, o mesmo discurso ganhou força nos EUA (o Peter). Lá, mais rapidamente do que no Reino Unido, as pessoas começaram a fazer contas e, em janeiro de 2024, por exemplo, surgiu o relatório de Steven A. Camarota, apresentado na House of Judiciary Committee, na audiência "The Impact of Illegal Immigration on Social Services", a 11 de janeiro de 2024, que demonstra claramente o impacto total da imigração. Quem quiser pode ler, pois é público (https://budget.house.gov/download/the-cost-of-illegal-immigration-to-taxpayers).
“Summary Illegal immigrants are a net fiscal drain, meaning they receive more in government services than they pay in taxes. This result is not due to laziness or fraud. Illegal immigrants actually have high rates of work, and they do pay some taxes, including income and payroll taxes. The fundamental reason that illegal immigrants are a net drain is that they have a low average education level, which results in low average earnings and tax payments. It also means a large share qualify for welfare programs, often receiving benefits on behalf of their U.S.-born children. Like their less-educated and low-income U.S.-born counterparts, the tax payments of illegal immigrants do not come close to covering the cost they create.”
Foi por isso que achei peculiar a forma como, quando a ladainha sobre as contribuições para a Segurança Social surgiu em Portugal, ninguém, nem mesmo alguém do CHEGA ou comentadores supostamente mais livres da bolha mediática da esquerda, alertou que as coisas não são assim tão simples. As contribuições para a Segurança Social não podem ser analisadas fora do contexto de todos os benefícios sociais. Nada! A intervenção do deputado da IL, creio que Guimarães Pinto, na Assembleia da República, foi até celebrada como um meme de sucesso na nossa imprensa, com a sua voz emotiva e boca cheia de coitadinhos dos imigrantes que estão a pagar as nossas reformas.
Obviamente, não há um estudo sobre o assunto em Portugal, mas não é preciso muito para perceber que, se assumirmos que os imigrantes não são vampiros diurnos que trabalham durante o dia e se recolhem ao caixão à noite, basta olhar para alguns números.
Existem 150.000 crianças imigrantes na nossa escola pública. A 10.000 euros por criança, o custo na escola pública é de 1,5 mil milhões de euros, certo? E pode usar o número que quiser, só isso já demonstra que a realidade não é bem o que nos estão a vender.
Se temos 1.000.000 de imigrantes em Portugal, representando 10% da população, e se a saúde em Portugal custa 23 mil milhões de euros, os 10% que eles representam corresponde a 2,3 mil milhões de euros. Já estamos além dos 1,5 mil milhões das contribuições que eles supostamente fazem.
Além disso, os salários pagos a imigrantes na verdade não geram IRS, a sobre representatividade de imigrantes nas nossas prisões (15% … não façam pergunta sobre etnia desses portugueses que por lá estão) ou coisas mais pequenas nos transportes públicos ou impacto nos preços das casas, e assim por diante.
Em resumo, pode usar as variantes que quiser dos números, as percentagens que quiser, a verdade é que o argumento usado nos últimos meses para calar as vozes críticas à imigração é uma falácia, uma "pista falsa" (red herring).