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barradeferro

barradeferro

13 Mar, 2022

Eles foram avisando

Acho incrível esta entrevista de Aleksandr Dugin em 2016. Nem é a melhor, mas é já de si reveladora e em poucos minutos nos diz ao que vinham.

Capture Dugin.PNG
https://www.youtube.com/watch?v=GGunRKWtWBs

Se admitimos a influência de Dugin em tudo o que Putin faz, que a visão do mundo de Putin é melhor representada, mais do que qualquer outra pessoa, pelo que Dugin nos diz… como é possível que não tenhamos levado a sério os russos na última década. - Eu sei que agora é fácil eu falar. Mas eu não faço disto minha profissão. Eu não sou jornalista nem político. Mas se fosse fica-me a sensação que teria feito melhor. Basta dizer que tenho um cérebro de direita por isso quando me cheira a fumo, procuro fogo.

Dugin diz tudo. A nossa (deles) verdade, a multipolaridade como única opção, a intervenção Russa na Síria por principio, a Ucrânia como um aviso que aquilo é o meu quintal nem pensem em fazer nada, o fim dos EUA como o único boss man mas aceitando que pode ser um dos mas não o único…  O desprezo que existe pelo Ocidente, o desprezo pelo liberalismo decadente, a asserção no mundo que a tal alma russa existe e é uma âncora no mundo. Ou deveria ser, ou algo assim do género, esteve durante décadas a medrar naquela parte do mundo, abertamente e só não quisémos ouvir.
Nós podemos estar a olhar para isto tudo como uma bizarria do maluco do Putin, mas ele estará a olhar para isto como o momento da grande batalha do século XXI.  E quando assim é, tens que ser muito burro ou pelo menos por demasiado alheado da realidade.
Na discussão dele com  Bernard-Henri Lévy vs. Aleksandr Dugin – Nexus Symposium 21 September 2019,  (https://www.youtube.com/watch?v=x70z5QWC9qs) Dugin explica porque têm que invadir toda a Ucrania! E, nem Bernard Lévy ligou nenhuma ao que ela acabava de dizer. Encontramos Alexandr Dugin em foruns de discussão intimistas com Anthony Blinken o atual secretário de estado norte-americano e nunca escondeu a perspectiva deles. O nível de arrogância que temos que ter, não é?

E ele, Dugin, não deixa de ter razão em aspetos como por exemplo quando ele diz a nossa verdade é tão valiosa como a vossa verdade. Se disserem que a imprensa russa é bias então eles dirão que a imprensa ocidental é bias. E ao final do dia, alguém tem dúvida? Alguém tem dúvida que o liberalismo social progressista Ocidental, especialmente na última década, é ofensivo para um conservador especialmente se estiver a olhar de fora para dentro? 

E Dugin, concordando ou não com ele, sabe o que diz. E o que ele diz provávelmente está mais perto do sentir dos milhares de milhões de pessoas que não são ocidentais. -  Aliás, tenho dúvidas até que ponto por exemplo os portugueses não partilharão a aversão dele ao progressismo social Ocidental que atinge o seu apogeu no que considero ser a loucura dos EUA nos últimos anos. 

Que a imprensa ocidental é bias, até eu me queixo disso a toda a hora. A imprensa Ocidental é bias, castradora e opressiva para qualquer pessoa, grupo ou identidade que se insurja contra as meta-normas bem definidas e que são locais, nacionais, regionais e até universais na sua constituição, e acima de tudo desenhadas por um liberalismo progressista que em momento algum nos mostrou ser solução seja para o que for a médio prazo. Deixando passar tempo suficiente todas as redes (network) se hierarquizam e claudicam. Como no fascismos. Na imprensa ocidental tudo obedece a pergaminhos, preceitos e narrativas oficialmente chanceladas por movimentos culturais que não tem provas, nenhumas, de que são uma alternativa válida para as construções de séculos que sustenta nesta altura o mundo. Zero.  Eles pelo lado da Rússia mandaram isso tudo para as urtigas.

Dugin meramente nos diz que fizemos o mesmo do nosso lado (deles) e também temos as nossas narrativas bem oleadas na nossa imprensa para o nosso povo. Com isso recriamos a alma russa.  – Pois se é assim connosco e serve para o nosso lado, tenho que aceitar que sirva também lá para o lado deles. Não sobram exemplos em que me insurjo contra o
kayfabe oficial e como se castra totalmente qualquer desafio às meta-normas, certo?

Aliás, terá sido a nossa obsessão, nossa no ocidente, de recusar ver o mundo entre nós e eles é que nos trouxe até este momento.  – Meu caro existe eles e existe nós e a vida é o criar e recriar do nós. É só ver como o cheirinho de ofensiva Russa nas fronteiras lá do leste subitamente somos Europeus, temos fronteiras, gostamos de patriotismo (Ucraniano), gostamos de militarismos e marcialidades.

Percebo o risco da porcaria do “nós” e do “eles” no que toca a criar narrativas que nos levem até becos de onde é difícil sair. Mas a verdade é que não é por fingir, pretend not to see, que também evita estarmos neste nesta posição em relação à Rússia, pois não? E o nós não tem que ser necessariamente como antagonista do eles mas sim a afirmação que eu sou definido por tudo o que os terá trazido até aqui e quero preservar isso para o futuro.

 É por vezes dizer que sou como sou e é assim porque é assim! Eu sou daquelas pessoas que logo no ataque à Geórgia, bem antes de se chegar à Crimeia, se deveria ter intervindo transformando os russos numa nação sob observação e começar logo a cortar os canais de conversa com eles. Porque se na Geórgia era bater o pé e nunca aceitar a parvoíce da situação da Ossétia do Sul, isto nunca teria chegado à Crimeia onde por acaso acho que se devia ter tido em atenção o desejo da esmagadora maioria da população, algo que a Ucrânia também não fez. Ao final do dia se 90% quer ser russa ou independente então algo vai mal no reino da Dinamarca se te opuseres, certo?

Volto a dizer, ao final do dia tens que dizer que és como és, somos quem somos, e se não gostes não comes, se não quiseres não fiques, mas sempre que me chateares levas na fuça.  Poderá haver muitas formas de o afirmar, entre elas a minha que nos diz somos o Ocidente, somos os filhos dos Bell Beakers por isso somos os mais badassmotherfuckers de todos (brinco), mas nunca será, ou passará, por aceitar tudo e todos e tudo de todos. 
E com a Rússia fizemos exatamente o oposto, apaparicando, apaziguando, demonstrando a cada sessão que eramos mesmo push-overs de merda a quem se pode fazer tudo, exceto talvez chamar pelo pronome errado ou dizer que os dilemas do LGBTQ não estão no topo da minha lista de preocupações!

Olho para Dugin com respeito, mas não me iludo, porque em cinco minutos na mesma sala com o personagem e teria zero de dúvidas que ele era o inimigo. Não preciso de ver o tubarão basta ver a barbatana!

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