III - Portugueses… Finalmente!
Após todos os posts que fui colocando sobre a genética subjacente ao que nós portugueses somos historicamente, com todas as certezas, duvidas e novidades que aparecem, aqui vai o uma descrição em termos de grupos genéticos, pedaços de história genética que nos compõem a todos. Somos uns bocadinhos destes, mais um bocadinho de aqueles. Isto estamos a falar de genética autossómica (autosomal), aquela que é passada tanto pelo pai como pela mãe. E os exemplos que dou são representados por grupos de pessoas que hoje em dia tem maiores quantidades daquela agremiação genética,não necessariamente que tenham sido eles a dar-nos essas componentes genéticas.
Tudo isto é muito consistente, tanto por trabalhos feitos em portugal, até claro a partilha de análises autossomais de portugueses que se deram ao trabalho de partilhar os seus dados genéticos que obtiveram através das analises genéticas como o 23andme e que agora fazem parte de bases de dados genéticas do planeta inteiro.
Mas começando pela percentagem maior até à menor e alguns factos que criam contexto para essas componentes genéticas. Preparados?
47% disto (Atlantic mediterranean)
As populações com maior percentagem deste genética populacional são os Bascos (franceses e espanhóis) e depois o pessoal da Sardenha.
No fundo é o material genético dos agricultores do neolítico. Estes homens que vieram da Anatólia. Dantes dizia-se do levante mas agora sabemos que vieram da Anatólia antes do aparecimento da identidade turca (ou as misturas da queda do império Otomano) que ocupou aquela região. Começaram a vir para a Europa há sensivelmente 10,000 anos. Como sabemos o europeu é essencialmente feito deste material chamado de EEF (early eastern Farmer), de WHG (West Hunter gatherer) e ANE (Ancient Northern Eurasian) e o que divide um europeu do norte de um europeu do sul é que as proporções estão invertidas. No sul mais EEF e no Norte mais WHG.
Mesmo os agricultores do Neolítico já eram uma mistura de uma componente misteriosa que é o Basal eurasiático (que ainda não se encontrou nenhuma pessoa ou material genético antropológico que fosse só isto) e já uma componente forte dos caçadores recolectores que há muito habitavam o Oeste Europeu (mas curiosamente os EEF não possuem componentes dos caçadores recolectores do leste).
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23% disto (Northern European)
Lituanos, finlandeses e eslavos estão carregados disto…
Caracterizado hoje em dia como Northern European, esta é a componente mais acentuada da componente genética dos caçadores recolectores que habitaram a europa nas últimas dezenas de milhares de anos. Estamos a falar do período Aurignacian e gravettian. Razão pela qual o norte da europa tem mais desta componente que a sul, é porque quando se deu a expansão na idade do bronze dos cavaleiros das estepes, nos últimos 5 mil anos estes vinha carregados desta componente de caçador recolector (WHG - West Hunter Gatherer) e por isso existe mais a norte do que a sul, visto que a sul foi por onde entraram os EEF (agricultores do neolítico) e daí terem ficado mais carregados desta genética.
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10% disto (Cáucaso)
Os georgianos, arménios e Ossetianos do norte ou mesmo Chechenos têm proporções acima dos 50% disto.
Definido como caucasiano porque é a componente especifica dos povos que hoje em dia habitam a região à volta do Mar Negro e do Mar Cáspio. Este ponto terá sido o ponto de origem dos povos que colonizaram a europa após o neolítico. A famosa migração das estepes que retornou a genética dos caçadores recolectores ancestrais á europa, Os indo-europeus, os Cavaleiros das carruagens, da pastorícia e acima de tudo os bebedores de leite que trouxeram essa capacidade para a europa e rapidamente eliminaram todas as linhagens dos agricultores do Neolítico porque ter filhos que sobrevivem a leite de animais bate qualquer outra estratégia. Foi o fim do megalitismo na europa ocidental. Este é o povo da cultura pit-grave, Yamnaya, os Kurgans ou e Maykop e esta componente genética foi para os judeus, foi para o médio oriente e para a Asia central. Em Portugal temos muita genética judia, dos judeus sefarditas e estes também trouxeram muito desta genética para Portugal, tal como provavelmente povos do norte de africa.
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7% disto (Norte de Africa)
Os Mozabites (100%!) e marroquinos.
É a percentagem que temos do Norte de África. Que muita gente chama de Árabe mas não tem nada de Árabe. É norte africano. Por isso muita gente aceita que vem das invasões islâmicas, do califado de cordoba, enquanto outros dizem que não porque esta componente é essencialmente bérber e muito paleo norte africana, e por isso andaria por aqui há dezenas de milhares de anos, muito antes da islamização ou arabização do norte de Africa. Se por um lado eles andaram por aqui, antes da reconquista, um dos maiores mistérios que há relativo a isto é o seguinte: Só existem linhagens de sangue pelo lado da mãe (MTdna), ou seja do haplogrupo U6, que é Norte Africano no… norte de Portugal. É estranho mas é assim. As filhas, das filhas das filhas destas norte africanos estão no norte do pais não havendo no centro ou sul nda destes haplogrupos. Quando é verdade que já os short tanden repeats (Y-Dna) que permitem identificar a descendência de homens (masculino) do norte de Africa estão grandemente concentrados no Alentejo… mas não no algarve (pese embora exista pela europa fora).
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7% disto (Gedrosia)
Os Brahui e Balochi, tal como o irão, Afeganistão e Paquistão e mesmo a india (partes) estão cheios disto.
Gedrosia é a região á volta do deserto com esse nome antes de chegar à india. Costumo dizer que é de onde a beleza vem. Algumas das faces mais simétricas do planeta estão por aqui. Mas também os maiores malucos. É só ver os afegãos. Esta genética faz parte da genética que veio com os indo-europeus para a europa e depois claro Portugal. Uns vieram para aqui pela cultura Yamna e Kurgan (malucos dos machados de guerra) e outros por culturas como Afanasevo foram para oriente, para este, indo parar ali para os lados da asia central. Atrás de Alexandre o grande também veio alguma desta genética… e é daqui que vêm a genética dos malucos que encontra no dia-a-dia em Portugal.
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5% disto (Sudoeste Asiático)
Estamos a falar de palestinianos, israelitas, etc.
Esta componente genética terá chegado a Portugal provavelmente com a herança genética dos Judeus sefarditas que muitos temos em Portugal. Encontramos abundantemente nas zonas onde a linhagem patriarcal do J2 (Y-dna) ainda é muito abundante como na região de santarém. Ver meu post sobre a cultura do touro e das touradas.
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0,7% disto (África Subsaariana)
Do Senegal a Angola
Dos resíduos genéticos que ainda se encontra na população Portuguesa, uma das curiosidades é esta pequena percentagem de genética subsaariana que uma parte da população Portuguesa possui. Esta componente terá vindo da elevada população negra que Portugal chegou a ter, nomeadamente no século XVII quando cerca de 10% da população de lisboa chegou a ser de raça negra. Outros dizem que esta genética negra também é muito mais antiga, trazida pela genética bérber que integra os tais 7% acima mencionados.
Uma coisa e certa: Apesar da nossa genética subsariana ser tão pequena e não existir descendência de Haplogrupos Y-Dna negros em Portugal (homens) a verdade é que a quantidade de portugueses que maternalmente descendem de uma mulher negra é elevado e único em toda a europa. Cerca de 6% dos portugueses descendem de uma mulher cuja ancestralidade está numa mulher do haplogrupo mtDna (maternal) L. Ora este HG só existe na Africa Ocidental. Se as linhagens matriarcais do norte de africa (U6) se encontram somente no norte do pais (… mas então as invasões islâmicas não foram a sul??!?!) a verdade é que o mtdna L está proporcionalmente espalhado pelo pais todo. Na Europa, só se encontra este fenómeno mesmo em Portugal indiciando que terá mesmo origem no comércio de escravos.
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Em resumo,
Em resumo, nós, como todos os povos europeus, somos uma mistura das mesmas componentes genéticas milenares e são essas componentes que fazem de nós geneticamente europeus. Numa análise mais elevada (K3) somos essencialmente EEF, WHG e ANE. Isto é o europeu visto mais à distância. Da mesma forma que visto mais de perto (em K7 ou K12) vemos que em pequenas alterações nas proporções dessas mesmas componentes assim detetamos europeus do Norte ou do Sul e alterações ligeiramente maiores assim definem europeus do sudeste europeu (como a Sicília ou Grécia) ou do noroeste europeu (Dinamarca ou suécia).
Pequenas componentes extrínsecas a esta caracterização genética central dos europeus definem a heterogeneidade da história dessas populações, como por exemplo no caso das populações Ibéricas os 6 ou 7 porcento da genética do norte de Africa destingem-nos do resto da europa ou a componente de 6 ou 7 porcento de componente siberiana define os finlandeses e os russos, ou percentagem mais elevada de caucasiano define os georgianos ou os cipriotas…
As misturas genética europeias, muita gente não sabe, ocorreram nos últimos 1500 anos. E foi essa mistura, junto á mistura ancestral, que nos transformou em todos… primos.