O milagre da agregação
Vamos entrar numa época politicamente muito intensa daí que tentarei partilhar algumas coisas sobre política. Isto é, para mim, um conjunto de evidências que deveriam ser do conhecimento geral.
A primeira é o milagre da agregação e a ode à ignorância. E todos sabemos quando se coloca questões relacionadas com PIQ (political IQ) aos povos como existe um índice de desconhecimento verdadeiramente ubíquo. Mas isso não é necessariamente mau.
Na democracia tem que se deixar a ignorância funcionar! Ou, pelo menos, esse é o segredo da democracia.
A diferença entre uma democracia e uma… não democracia, é que nesta ultima existe um grupo muito pequeno de pessoas a decidir e na democracia existe um grupo um pouco maior (por vezes muito maior) que realmente decidem (por norma algo abaixo dos 10% da população) que são conhecidos como os informados (well informed).
E a ignorância é importante porque esta implica que se deixa que de forma não sistemática, sem erros sistemáticos (e isso é importante!), que os ignorantes se anulem. Em ciência política é assumido que as pessoas, o povo, não sabe por norma do que está a falar ou das variáveis intrínsecas das várias partes que compõem uma política. Logo pendem de forma algo aleatória (na minha opinião por favorecimento de uma determinada preferência cognitiva) para um lado ou para o outro.
Se deixarmos que isto aconteça, o que é conhecido como a lei de números grandes (law of large nunbers) implica que os 90% que votam e não percebem nada do assunto (ill informed) vão votar de forma a anular-se uns aos outros e serão os restantes 10% (mais ou menos) que ao tomar uma decisão decidem o futuro do país (os well informed).
Muitas vezes o exemplo dado é o seguinte: Num determinado pais (fictício) o Hitler vai a votos com um candidato normal. Nesse pais imaginário as pessoas que não sabem quem ele é vão votar nele e contra ele de forma quase aleatória. Assim ele acaba com 45% dos votos e o candidato normal com 45% dos votos, mas como existem os restantes 10% que sabem bem quem Hitler seria, pois votariam todos no outro candidato e assim a democracia funcionaria como o tal sistema que por norma toma as decisões correctas.
Assim se dá razão ao Marquis de Condorcet que avançou com a tal lei dos números grandes. Esta é a vantagem da democracia. Pese embora por vezes algo corra mal, se deixar a roleta ir rolando e deixar os well informed ir decidindo verdadeiramente o caminho, acaba sempre por ir dar ao “expected value” do que é melhor para o povo em geral e que será tão melhor quantas mais vezes deixar a roleta rolar…
Simples não é?
Por isso é que deixando os ignorantes em paz, uns vão preferir o Seguro e outros o Costa, acabando assim por se anular… ficando depois a batalha pelos well informed que irão naturalmente escolher o Costa. – Não é bonita a Democracia?