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Sobre a TAP

por Olympus Mons, em 09.12.20

E somos burros, porque vamos “queimar 3 mil milhões de euros na TAP” com uma probabilidade baixa de ela sobreviver.  Mas também somos burros porque até 2020, a TAP, crédito lhe seja feita, sempre foi uma pedra no sapato de muitas companhias por esse mundo fora. Mesmo que morra tirem-lhe o chapéu em sinal de respeito, seus ingratos.

Ontem ouvi o Marques Mendes. É só abanar a cabeça - Não adianta explicar pela enésima vez que, nos últimos 20 anos a TAP teve 0 (Zero) dinheiro dos nossos impostos, que viveu da sua capacidade de gerar receitas, que tem um dívida constante nestes 25 anos que ronda os mil milhões de euros (ouve alturas em que baixou aos 500ME mas logo subiu) que só 200M dessa divida é sequer garantida pelo estado. E, sem esse o nosso dinheiro , é 2% do PIB, que deixa algo ~1,4 Mil milhões de euros positivo na balança comercial, que exporta ~2.5 Mil milhões de euros, deixa 250 milhões de euros só na segurança social, gera na economia para cima de 100 mil empregos, etc, etc, etc… Não adiantou nunca lembrar isso!

Perdido nas quezilias Norte-Sul ou a incapacidade cognitiva de tantos de entenderem um conceito simples como o de HUB, a mantra é sempre a mesma.  Tanto assim é que ainda ontem o Marques Mendes repetiu a mesma tugice de sempre …” O dinheiro dos nossos impostos”. 

Mas agora que existe a possibilidade real de desaparecer a curto-médio prazo, lentamente e numa orgia de dinheiro dos nossos impostos (por isso devia ter sido fechada agora) tenho a certeza que todos os factos acima enumerados vão entrar nas narrativas dos Portugueses.  Porque para tuga só leite derramado é que é mesmo bom. Aquela coisa da saudade. Não somos pobres por razões exógenas, somos pobres porque somos…. Burros!
Disto isto, e verdade seja dita , a TAP vai ser vítima da pandemia e não de qualquer outro evento, ou sequer desta falta de reconhecimento por parte do português.

Mas, o ponto para este post é outro.  

A pergunta que oiço a toda a hora é:
 Mas que vai acontecer após o plano de restruturação?

Na expectativa de manter esse impacto da TAP na economia o governo vai injetar rios de dinheiro na esperança de voltar a ter o retorno em 2023/34. -  E retorno é simplesmente o balanço positivo na balança comercial, é todo o dinheiro injetado na economia pela TAP (que efetivamente é muito), é manter empregos e impostos, etc... Mas o governo está errado. Infelizmente.

No futuro, no ano de 2021 a TAP irá manter algo como 2.6B de custos e gerar receitas num total de algo como 1.6b. O deficit expectável.  No ano seguinte seria expectável, ou essa será a expectativa do governo, que  atinga algo como os 2.3B de receitas com o aumento dos Load factors (taxa de ocupação) e possibilidade de conseguir um RASK (receita) a rondar os €5.5 cêntimos por Passageiro Quilómetro Oferecido, o que permitiria, em última análise, manter a estratégia que o governo projecta na reestruturaçao… mas, infelizmente, não vai acontecer isso.

Com o retorno intenso da procura após a páscoa de 2021 todos os concorrentes terão capacidade disponível para adicionar oferta ao mercado. Seja empresas como a TUI e um mercado de charters muito agressivo, seja empresas como a Lufthansa ou KLM/AF que não vão deixar passar a oportunidade de atacar o atlântico sul e Africa sem esquecer no Atlântico norte (EUA), enquanto as ryanair e Easyjets vão retirar à TAP qualquer oportunidade no mercado europeu porque necessitam ressuscitar o seu modelo Yield neutral/volume aggressive. Simultaneamente O Covid-19 vai acelerar algumas das tendências que já estavam em curso na transformação digital (especialmente na distribuição) e a TAP não vai poder acompanhar porque não vai ter capital para investir e manter-se a par daqueles.

Sem capacidade de conseguir os volumes necessários, não vai ser possível fazer yield up. Aquele Rask vai manter-se mais baixo do que o desejável (algo como €4.8-5.1 cêntimos). Os resultados vão-se agravar. Sem conseguir aumentar as receitas por passageiro vai tomar a decisão de reduzir a sua frota ainda mais.

E para a TAP manter o HUB em lisboa deveria ter os aviões que agora tem na frota (mais ou menos). No entanto em 2022 a TAP deverá ter 75 aviões (pouco mais de metade). Quanto mais reduzir a sua frota, menor a sua rede, menos tráfego pesca, menos volume consegue porque a rede em O&D sendo pequena não permite fazer aquilo para que as redes (O&D network) existem trazendo tráfego pelo Hub. Sem ofertas de frequências e rotas os clientes escolherão outros Hubs e o volume necessário à sustentabilidade não aparece. - Menos volume, menor o impacto da TAP na economia de Portugal. 

Por conseguinte, e na melhor das hipóteses, sendo que a pior é fechar (ou o inverso já nem sei), ao constatar esse facto, lá para 2023, fará com que o próximo governo venda, que quer dizer entrega sem condições a quem queira ficar com ela, a TAP. Nessas condições estará em cima da mesa uma nova restruturação da companhia. A TAP será reduzida a algo como 45-50 aviões. Impossível ter um HUB em lisboa com 50 aviões. A estratégia nesta altura já estará muito centrada num P2P (point 2 point) que sabemos ser uma estratégia anacrónica e que não resulta. Quem comprar usa a TAP como um feeder para a rede deles e para transportar tráfego étnico, quando muito.

 Mas mais importante essa companhia (TAPzinha) terá um impacto muito reduzido na economia nacional.  Pouco mais do que as “operações” (e mesmo assim só parte) ficarão em Portugal. E isso é muito pouco quando comparado com esta TAP atual. Lembrar que, por exemplo, a TAP era algo como a terceira ou quarta “cidade” em Portugal a consumir vinhos (!).

Isto é uma análise superficial para um post.  Daqui poderia fazer um paper imenso. Mas penso ter explicado um bocado.

Chegados aqui.
Mas, 3 mil milhões do erário público? Chiça. - Para pagar esse mar de dinheiro gasto com a TAP (e pagar é impacto na economia e nos impostos) levará algo como 10, 15 ou 20 anos. Esse espaço temporal está para além de qualquer investimento minimamente razoável para um país pobre numa indústria que ainda muito se transformará e que em qualquer das formas já teria um futuro incerto que exigia muita adaptabilidade mesmo antes do Covid.  A TAP terá zero capacidade de reagir.

 

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3 comentários

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De Anónimo a 12.12.2020 às 20:02

A TAP será isso tudo, e talvez ainda mais.

Da última vez que comprei bilhete para voar na TAP, cancelaram-me a passagem por overbooking, com o aviso a chegar dois dias antes, na altura do Natal.
A quem nunca tentou arranjar uma passagem com dois dias de antecedência, em meados de Dezembro, posso dizer que não é agradável.

Mandei email para a TAP.a explicar o sucedido. Nem sequer exigi dinheiro, um pedido de desculpa chegava. Estou à espera de resposta vai para 3 anos.

Nunca mais.


Zé Manel Tonto
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De Olympus Mons a 12.12.2020 às 22:07

A United deixou-te apeado em Chicago, a Lufthansa em Tóquio... A indústria é assim complicada.

Dito isto: Greves de Pilotos ( e tanto faz a TAP como a Lufthansa) é uma coisa dificil de digerir. Já são protegidos pos lei, por organizações de saúde e muito bem pagos. Estas pessoas deviam ter uma moral um pouquito mais elevada. Conheço toneladas de Pilotos. Por norma, são uns merdas narcissistas.
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De Olympus Mons a 12.12.2020 às 22:07

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