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barradeferro

barradeferro

18 Mar, 2022

Who we are...

Uma curta, só para lembrar o que deve ser lembrado especialmente agora que o nosso Presidente regressou de Moçambique.
Mas a verdade é que já li o estudo há algumas semanas e nao queria deixar passar mais tempo.
Que toda a gente é descendente e um violador e de uma mulher violada é bom que se comecem a habituar.  Que toda a gente é descendente de um colonizador e de um colonizado costumava também ser um dado, uma verdade. 

No entanto parece que temos que voltar a frisar o que em tempos era óbvio, até por raciocínio lógico. Quando assistimos a um recrudescer das tangas pós-modernas de que até a verdade é a construção que jeito der na altura, convém começar a carregar na realidade sempre que a oportunidade se apresentar.

Capture beleza.PNG

https://www.biorxiv.org/content/10.1101/2022.02.07.478793v1.full.pdf

Convém assim e devido a isso ir lembrando, nomeadamente aos Angolanos e Moçambicanos, mas aos africanos em geral, que eles também são descendentes de colonizadores. Os Europeus colonizaram a América, os Bantus colonizaram África. A mesma coisa.  

Acima é um estudo de há uma semana, sobre os Bantu de Angola e de Mozambique.  Já aqui falei sobre a colonização Bantu de África que não foi assim há tanto tempo. Neste caso, acima, reforça o estudo que essa colonização Bantu foi feita com muito pouca admixture com as pessoas que antes viviam nessas regiões, que a supremacia Bantu, nomeadamente nos últimos dois milénios, teve interligações entre as populações de Angola e de Moçambique durante especialmente o ultimo milénio trazendo alguma ligação entre as duas comunidades. Isso quer dizer que esse povo colonizador se identificava bem entre si como iguais, fomentava as ligações entre si e, e, dos que por lá viviam pouco restou. Das populações ou da genéticas deles na maioria das populações nao ficou nada de monta. Algumas destas pessoas habitavam aquelas zonas há mais de 100 mil anos! É a vida, é assim, por todo o lado do planeta -  Estão a ver, assim como os Europeus na América que pouco ou nada fica da genética indígena nas populações europoides da atualidade.

Este estudo conta com a colaboração, ou ela é a principal autora do estudo. Já nem sei se Sandra Beleza e a mãe ou a filha, mas pese embora mais antigos, li bons estudos de Beleza et al especialmente do tempo dos papers mitocondriais (mas penso que esta é a filha, que está na University of Leicester, Department of Genetics & Genome Biology, Leicester, UK).

E se alguém ainda tinha dúvidas sobre o estudo sobre o ADN de Shum laka, neste estudo acabadinho de sair da prensa e com muito mais genomas por toda a África não deixa margens para dúvidas:

"

Ancient DNA and deep population structure in sub-Saharan African foragers
...Demographic transformations in the past approximately 5,000 years have fundamentally altered regional population structures and largely erased what was, by the Late Pleistocene, a well-established three-way cline of eastern-, southern- and central-African-related ancestry that extended across eastern and south-central Africa. "

https://www.nature.com/articles/s41586-022-04430-9#Sec7

E prontos, deixem-se de tangas. Descendentes de colonos e colonizadores somos todos. A realidade é mesmo uma bitch.
Como tudo na vida e muito em pendulo, e o dito haverá de vir para ou outro lado e nesse caso o estabelecimento de novas regras de, chamemos-lhe assim, conversa entre pessoas será bem diferente do que é hoje em dia. E muita gente nas novas gerações alicerça a sua identidade em pilares de vitimização e para essa gente a bordoada vai doer.

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